Sopram ventos de continuidade. A generalidade dos políticos parece desconhecer em absoluto as dificuldades e agruras a que a crise financeira e depois social nos prostrou. Seria de esperar que o PEC4, os orçamentos seguintes e respetivos retificativos do retificativo servissem para algo. Aparentemente não. As manifestações onde milhares, mais ou menos pacientemente, exultam contra a manifesta deterioração das suas vidas, não fazem eco nas fileiras políticas onde impera o privilégio à familiaridade indecente da cor partidária. O resultado das últimas eleições autárquicas, que sinalizou fortemente a forma clubística de fazer política, embateu de frente com os vícios e falta de virtude demasiado enraizados nas mentes daqueles que privilegiam a endogamia clubista ao bem comum.
Estive na Beira Alta recentemente e presenciei o mesmo frio, a mesma desertificação e estrangulamento social onde os cafés são, hoje, local para desempregados, cada vez mais os párias da sociedade, quando outrora significavam lugar de aprendizagem e partilha de experiências. Mas mais importante e lamentável, vi a mesma forma de fazer política e governar, indiferente a tudo aquilo que a realidade acima descrita poderia aconselhar.
Quem tenha perdido algum tempo com o último Orçamento do Estado conclui que será muito difícil para as Câmaras efetivar a contratação de novos quadros. Quase impossível, a menos que surja o não pouco habitual “alçapão” legislativo que dê luz a um pequeno decreto que reinterprete aquilo que vem ipsis verbis na letra do Orçamento – qualquer contratação só é possível quando for comprovada a absoluta necessidade e viabilidade financeira. Isto significa que todas as promessas, antes passíveis de cumprimento, desta feita não o serão. O descontentamento popular pela aldrabice de irresponsáveis ou otimistas lunáticos trará tempos de discórdia e contestação. Não apelo à violência. Como Mário Soares, limito-me a sinalizar aquilo que aí vem, quando no próximo ano a poeira assentar e os despedimentos nas empresas municipais, na passada semana novamente noticiados, chegarem.
Em negação de toda esta realidade, por exemplo, na Mêda, em Trancoso ou na Guarda, a promessa e garantia de emprego foi novamente a arma eleitoral predileta. Os candidatos optaram pelo caminho mais fácil, negligenciando uma conjuntura dissuasora de tais ímpetos.
Nota: Em Trancoso, o multi-empregador executivo do PSD governou durante mais de 20 anos sem assessor da presidência ou chefe de gabinete. Só no mandato iniciado em 2009 nomeou um chefe de gabinete, função extinguida antes do final do mesmo mandato. Pois em tempos de dificuldade, o PS resolveu dar o exemplo daquilo que não deve ser feito e já nomeou um chefe de gabinete e um assessor para a presidência. O novo executivo quereria outra conjuntura ou outra realidade. Mas foi nas condições atuais que foi eleito e devia nortear a governação condicionado pelas restrições conjunturais. As pessoas estão atentas.
Por: David Santiago
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