Cavaco Silva chama masoquistas a analistas e alguns políticos. O Presidente também afasta cenário de eleições antecipadas.
O Presidente da República qualificou hoje como «masoquismo» o facto de analistas e políticos portugueses considerarem que a dívida portuguesa não é sustentável.
«Estando no estrangeiro e falando com chefes de governo e ministros que estão convencidos de que Portugal vai ter sucesso, surpreende-me que haja analistas e até políticos que digam que a dívida publica não é sustentável», afirmou Cavaco Silva em declarações aos jornalistas em Estocolmo, onde se encontra em visita oficial.
E acrescentou, perentório: «Se os nossos credores dizem que a dívida é sustentável, a Comissão, o Banco Central Europeu e o FMI, somos nós, os devedores, que dizemos que não?», interrogou-se o Presidente. «Só há uma palavra para definir esta atitude: masoquismo».
Eleições não
Na conferência de imprensa, Cavaco também afastou o cenário de eleições antecipadas, em nome da normalidade política, ao comentar que discutiu o resultado das eleições autárquicas com as entidades suecas.
Considerando que as eleições de meio termo costumam ser de protesto, o Presidente disse que a «estabilidade política é fundamental», e que os mercados e os parceiros europeus olham para este aspecto com particular atenção.
«Os políticos suecos, tal como os políticos alemães e de muitos outros países esperam que Portugal seja nesta matéria um pais normal, que não seja uma exceção, isto é, um governo eleito para quatro anos deve completar o seu mandato de quatro anos». E sublinhou: «É isto mesmo que eu penso e que eu tratei sobre o assunto nos encontros políticos na Suécia».
«O caminho não será fácil»
Cavaco Silva voltou a reafirmar que está convencido que Portugal não precisará de um novo resgate e que os parceiros europeus prefeririam que o caso português fosse resolvido através do mecanismo europeu de estabilidade para evitar passar pelos parlamentos.
Mas – advertiu – «temos de chegar ao fim do programa de ajustamento com uma nota positiva», sublinhou, ao mesmo tempo que disse não querer «especular» sobre os resultados da oitava e nova avaliação.
«Não conheço o desenho do próximo orçamento do Estado, por isso devemos esperar para ver como vai ser percorrido um caminho que não será fácil até à aprovação do orçamento e depois até ao mês de Junho de 2014», concluiu.
Coesão interna do Governo
O Presidente manifestou-se também preocupado com o facto de na Europa haver um sentimento de que falta coesão política em Portugal, mas espera que isso possa ser corrigido, «principalmente se a coesão interna do Governo continuar forte», a respeito do qual considerou o orçamento um «momento importante».
Cavaco acrescentou ainda mais dois pontos, a manutenção da trajectória de crescimento e um amplo consenso político sobre o pós-troika – um tema a respeito do qual disse não estar em condições de falar mas que «é cada vez mais mencionado» internacionalmente.
«Eu já disse noutra ocasião que espero que todos os lideres políticos em Portugal, à medida que se aproxima o fim do período deste programa de ajustamento, ganhem uma consciência acrescida das exigências que continuarão a ser colocadas a Portugal depois de Junho do próximo ano», afirmou, acrescentando que desconhece «qual a dimensão e que tipo de condicionalidade será exigida».
Irlanda beneficiada
Cavaco Silva comparou aliás a situação portuguesa com a irlandesa, afirmando que a Portugal são exigidas metas do défice tanto para este ano como para o próximo mais rigorosas do que para a Irlanda.
«Pode dizer-se que o ponto de partida da Irlanda foi mais elevado, mas vários economistas demonstraram também que o nosso ponto de partida foi subavaliado», sublinhou.
Interrogado ainda pelos jornalistas sobre a recente posição do líder socialista, que disse não estar disponível para dialogar com o Governo, Cavaco recusou-se a comentar as suas declarações, mas sublinhou que mantém a sua posição de que a confiança seria melhorada «se existisse um clima de compromisso alargado em relação às forças políticas que subscreveram o memorando» e que Portugal poderia reforçar assim a sua posição negocial face às instituições internacionais.
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