Quando os pilotos da Royal Air Force ganharam a Batalha de Inglaterra, durante a Segunda Guerra Mundial, evitando que a Luftwaffe destruísse o que restava das infra-estruturas inglesas, Churchill, em mais uma frase lapidar, prestou-lhes homenagem reconhecendo que “nunca tantos deveram tanto a tão poucos”. Passados alguns anos, atulhados em dívidas, os estudantes da Real República Palácio da Loucura, em Coimbra, “reorganizaram” a frase de Churchill e adoptaram-na como lema da sua casa, tão bem descrevia a sua situação: “Nunca tão poucos deveram tanto a tantos”. Este lema poderia servir-nos a nós, cidadãos da República Portuguesa, igualmente atulhados em dívidas, se tivéssemos o mesmo sentido de humor.
Chegámos a um ponto, dizem alguns dos mais conhecidos economistas mundiais, que já não se acredita que algum dia possamos pagar as nossas dívidas. Os nossos políticos, dizem eles, encontram-se na fase da negação (denial), uma das cinco por que, diz-se, passam os condenados à morte. E a nossa, dizem outros economistas, também famosos, é uma morte lenta e inexorável. O facto é, escrevia na semana passada um editor de economia do New York Times, que Portugal já está a pedir dinheiro emprestado para pagar os juros de dívidas anteriores. Outro facto é que só já nos emprestam por estarmos na União Europeia e porque o nosso incumprimento colocaria em risco o Euro – o que torna inevitável o nosso bailout pela cada vez mais renitente Alemanha.
Acontece que o problema nem é tanto dever muito. Como apontava outro famoso economista na semana passada (Krugman), em 1946 a dívida norte-americana correspondia a 126% do PIB. No entanto, poucos anos depois tinha caído para metade – e sem que essa dívida tivesse sido amortizada nessa medida! Não há segredo nem mistério nenhum: o PIB entretanto tinha simplesmente aumentado para o dobro. É por isso que qualquer situação tão catastrófica como a nossa só pode ter uma de duas saídas: ou começamos a gastar menos, ou a ganhar mais.
Chegados aqui, temos dois problemas. O primeiro é que para aumentar o PIB é essencial que as empresas e os particulares criem mais riqueza, mas o Estado não quer ou não pode gastar menos e, para manter o actual nível de despesa, tem de estrangular cada vez mais a capacidade de gerar riqueza dos particulares e das empresas. Para isso dispõe de um exército de fiscais de finanças, da ASAE, da ACT, de brigadas florestais, ou do ambiente, da GNR e de todas as polícias. Agora que já não conseguem cobrar impostos, tantos os prejuízos de todos os que ainda vão criando riqueza, massacram-nos com coimas e multas, chupando até à última gota de sangue.
Outro problema é que talvez tenhamos à frente dos nossos destinos a mais incompetente e mal preparada geração de políticos de que há memória.
Por: António Ferreira