A dívida dos municípios à Águas do Zêzere e Côa (AdZC) não pára de subir. A completar este mês 10 anos de existência, a empresa regista o valor mais alto de sempre. São 10 milhões de euros, sendo que o Fundão é responsável por «uns 50 por cento» do total por liquidar, revelou o presidente do Conselho de Administração (CA) da AdZC, na última quinta-feira, num encontro com os jornalistas destinado a assinalar a data.
O incumprimento por parte das Câmaras tem vindo a agravar-se nos últimos meses. Os números são elucidativos: comparativamente ao início de Junho de 2009, a dívida dos municípios duplicou. João Pedro Rodrigues explicou que é uma situação que se regista um pouco por todas as empresas das Águas de Portugal: «É um problema generalizado, fruto da situação económica que o país atravessa. Infelizmente, nesta região são poucos os municípios que conseguem assegurar os seus pagamentos a tempo e horas», lamentou. A empresa «tem procurado estabelecer acordos», permitindo pagamentos faseados, acrescentou o responsável, revelando, sem adiantar pormenores, que há processos em contencioso e que a AdZC tem actuado «de forma a que as dívidas não prescrevam».
Na hora do balanço desta década de actividade, João Pedro Rodrigues destacou o volume de investimentos realizado, na ordem dos 209 milhões de euros, o que será executado até finais de 2011, mais 38 milhões, bem como a «água em quantidade e qualidade» que hoje chega a uma população de mais de 230 mil habitantes. No caso do saneamento, «em todos os municípios as taxas de atendimento passaram para o dobro e, nalguns deles, como Manteigas e Aguiar da Beira, antes sem qualquer cobertura, chegam agora a níveis de eficiência acima dos 90 por cento», adiantou. «O aspecto menos positivo tem a ver com algum desequilíbrio económico-financeiro da empresa », admitiu João Pedro Rodrigues, aludindo a «um nível de receitas muito inferior aos custos». E que é agravada «pelos custos de fornecimento numa região com morfologia difícil», disse. Enquanto no litoral o custo médio por metro cúbico é de 1,45 euros, na região «é o dobro», comparou.
João Pedro Rodrigues espera que a questão do preço da água – que tem gerado protestos por parte dos municípios, devido às previsões de aumentos nos próximos tempos – venha a conhecer novos desenvolvimentos em breve, através da criação do Fundo de Equilíbrio Tarifário, actualmente a ser analisado pela Associação Nacional dos Municípios Portugueses (ANMP). De resto, o presidente do CA está convicto que aquele fundo ajudará a «equilibrar a balança». Outra das soluções apontadas passa por «uma gestão sustentável», aliada a novos modelos de negócio na área das energias renováveis que possam contribuir para uma maior eficiência e maximização dos recursos do sistema multimunicipal. Questionado sobre uma eventual saída de municípios descontentes, entre os quais o de Manteigas e Fundão, João Pedro Rodrigues considerou «pouco coerente estar a solicitar uma solidariedade inter-regional e entender que a intra-regional não é necessária».