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Diário Interior

15 de Novembro

Jornalistas portugueses atacados ontem no Iraque. Um raptado, outra baleada. Notícia, sim. Preocupação das empresas de comunicação a que pertencem, claro. Mas mais de meia hora em todos os noticiários televisivos e duas páginas de abertura do DN parece-me excessivo. Os jornalistas não são os personagens centrais do que passa no Iraque (nem no resto do Mundo, já agora). Temos problemas quando alguns deles não conseguem aceitar tal facto.

16 de Novembro

Inauguração do Estádio do Dragão. Na RTP, 10 horas de emissão dedicadas ao acontecimento. Estes exageros, a imitar as televisões privadas (nomeadamente a TVI e a emissão dedicada ao novo Estádio da Luz), provam que a ideia de serviço público está definitivamente morta e enterrada. Hoje, com a informação da SIC Notícias, a programação alternativa da SIC Radical e as boas (e antigas) séries na Fox, na SIC Gold e na SIC Mulher (esta indisponível aos clientes da Cabovisão), a RTP 1 não serve de nenhuma forma como alternativa aos canais privados. E se o Estado não regula nem fornece alternativas melhores do ponto de vista do consumidor, só tem uma coisa a fazer: sair de cena e deixar o mercado funcionar.

17 de Novembro

Fórum da TSF, 10h 55m. Tema de hoje: Tabaco. Depois da habitual babugem dos coléricos e intransigentes “não-fumadores”, que se queixam inclusivamente das coisas mais absurdas, um “ouvinte em linha” faz o que parece ser a mais surpreendente das declarações. “Eu sou fumador, mas tenho vergonha disso. As pessoas acusam-nos, mas não imaginam o difícil que é conseguir deixar de fumar. Aliás, o Estado devia proporcionar aos fumadores ajuda para deixarem de fumar, através de tratamentos e apoio psicológico.” É assim tão surpreendente? Claro que não. Em Portugal, ninguém tem responsabilidade pelos seus próprios actos. Se começa a fumar a culpa é dos amigos, se não deixa de fumar a culpa é do Estado. Só faltou pedir um subsidiozinho para os que deixem de fumar.

18 de Novembro

Sou informado pelo Público que o Rato Mickey faz 75 anos. Não sei se os miúdos de hoje, com as solicitações “culturais” divididas entre o Harry Potter e os animes infantis, têm do universo Disney as mesmas referências que ainda me assaltam. Mickey foi sempre o personagem central da pandilha, devidamente realçado pelo marketing da companhia. No entanto, sempre achei o rato um boneco sem qualquer graça. Sempre bom, sempre leal, sempre correcto, sempre contente. Nunca faz uma asneira, nunca se engana, nunca trai. (Nota: falo da personagem dos livros. É sobejamente conhecido o caos provocado por Mickey no sketch “Aprendiz de Feiticeiro” no clássico filme Fantasia.) Será o homúnculo de Freud na BD infantil. Pelo contrário, sempre me fascinaram os três típicos losers, todos eles suficientemente humanos para se poder gostar deles. Donald foi o meu primeiro amigo azarado, Peninha o meu primeiro amigo palhaço e Pateta o meu primeiro amigo desastrado. Hoje serei eu próprio uma amálgama dos três, mas sem sobrinhos a cargo. Os psicanalistas dirão, mas talvez não seja por acaso que na adolescência tantas vezes me revia em Adrian Mole e que ainda hoje me encontro aqui e ali na personagem que Hugh Grant interpreta em todos dos filmes.

Por: Nuno Amaral Jerónimo

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