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Diário Interior

11 de Setembro

Celebra-se o centenário do nascimento de Thedor W. Adorno, um dos pensadores mais influentes da teoria social do século XX. A Teoria Crítica que ajudou a fundar dava ao marxismo uma luz nova. Não é das relações económicas que surge o conflito e a alienação, mas da cultura. A teorização da sua Escola de Frankfurt sobre cultura de massas imputa aos produtores dessa cultura, mais igualitária mas menos genuína, um desejo de alienar o público e de manter sobre ele uma situação de dominação.

Hoje, ao ver a participação popular em qualquer canal de televisão, percebem-se dois erros em Adorno. Primeiro, Adorno não sabia ainda que a alienação seria menos procurada pelos produtores que desejada pelos consumidores. Segundo, Adorno partia da presunção de serem as massas a consumir os produtos da indústria cultural e não o inverso.

12 de Setembro

Participo num debate através dos blogues onde alguns bloguers assumidamente de esquerda se insurgem contra a decreto do Governo que proíbe a passagem de filmes pornográficos em canal de sinal aberto, o que na prática, levou ao encerramento do canal Intimo, o famoso “18” que substituía o Vivir/Viver nas madrugadas de fim-de-semana.

Crescendo e aprendendo. A esquerda onde cabe o feminismo, o relativismo e o politicamente correcto sempre se atirou com unhas e dentes à indústria pornográfica pelo retrato degradado da sexualidade, pela representação da mulher exclusivamente através da libido masculina e pela comercialização do corpo. Será apenas implicação com o Governo ou há mesmo uma mudança de rumo do pensamento destes camaradas? Se for este o caso, sejam bem vindos ao grupo de malta (de todos os quadrantes) que aceita a pornografia tal como ela é, sem grandes considerações sistémico-ideológicas.

Nota especial para agentes da PJ que leiam o Diário: A pornografia de que falo só inclui pessoas maiores, conscientes dos seus actos e de livre vontade, sejam actores ou espectadores.

14 de Setembro

Golpe de Estado na Guiné-Bissau. Kumba Ialá foi deposto por uma Junta Militar. Na imprensa e na televisão não aparece ninguém a exigir com convicção o “regresso à normalidade democrática” e o “regresso das tropas aos quartéis”. Se Ialá quisesse implantar o socialismo na Guiné, provavelmente a indignação correria o mundo. Além disso, o nome Kumba não é tão messiânico como Salvador e nós sabemos como a política vive das denotações.

15 de Setembro

Leio um ensaio de Helena Cronin sobre as diferenças entre homens e mulheres, a partir de uma leitura da psicologia evolutiva. Cronin, num texto ilustrado com variados exemplos da sua investigação, considera um erro pensar-se a educação e o ambiente sociocultural como factor único e preponderante para determinar o comportamento diferenciado entre sexos. A evolução da espécie é também um factor importante a considerar. Nada que os bons filósofos conservadores não digam desde sempre. A natureza humana, universal, imperfeita e animalesca, é tão ou mais importante que a situação histórica das sociedades na afectação do comportamento dos indivíduos.

16 de Setembro

O país voltou a arder. Uma segunda época de incêndios, cerca de um mês depois da primeira. O Governo, que acabou com a segunda chamada dos exames nacionais do 12º ano, prepara-se para fazer o mesmo com os incêndios. Para o ano, quando arderem as matas por esse país fora que ardam todas de uma vez para se poderem preparar as inundações do Inverno a tempo e horas.

Por: Nuno Amaral Jerónimo

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