Arquivo

Diário Interior

Onde o autor exprime livremente as ideias absurdas que tem nas horas vagas

O principal tema de debate neste jornal durante os últimos meses têm sido as comunidades urbanas. Com a excepção deste vosso servidor e dos meus vizinhos do lado já todos os articulistas da casa se pronunciaram sobre o assunto. Hoje é a minha vez – e apenas porque me apetece – e espero que em breve surja oportunidade de conhecermos a opinião do Hugo e do Bruno acerca deste filme e da música que nos andam a dar sobre o assunto.

Devo referir que gosto da posição inflexível deste governo em não repetir referendos. Não se repete o referendo sobre o aborto nem se repete o referendo sobe regionalização. No primeiro caso, para chatear o Bloco (o que só por si me parece extremamente louvável), no segundo para gozar com o PS (o que demonstra uma sanidade mental invejável) e com o povo que votou contra no referendo de 1998. Depois de votar negativamente a alteração da lei do aborto por muito poucos votos, os eleitores voltaram às urnas em Novembro e votaram contra a regionalização com uma percentagem esmagadora. Este governo, composto pelos dois partidos que fizeram mais campanha activa contra a regionalização, propõe agora que o país se reorganize ao gosto de cada freguês. Sentido de humor é isto. Depois da humilhação do PS por perder aquele referendo por tão larga margem, o governo agora chega e rouba-lhes a ideia. O PS não só não pode abrir a boca como ainda perde os louros todos de fazer um país a retalho. O povo, manietado, não pode fazer nada porque o Bloco de Esquerda só quer referendar o aborto e o povo não se mexe se o Bloco não sair à rua.

Com um sentido de responsabilidade e cidadania que me é absolutamente incomum, aproveito este espaço para formular uma proposta de divisão administrativa do país que acredito ser a melhor oportunidade para o melhorar. Essa oportunidade, como todos sabemos, é acabar definitivamente com ele.

Na minha solução legislativa, dividir-se-ia o continente em vinte regiões e deixar-se-ia ficar os Açores e a Madeira tal como estão. As vinte regiões do continente seriam depois leiloadas aos países da União Europeia, e cedidas em regimes de leasing, com possibilidade de aquisição definitiva. As regiões teriam possibilidade de impugnar três países aos quais não quisessem pertencer e escolher outros três com estatuto de adquirentes preferenciais. Por exemplo, por mim, a Beira Interior ficaria impedida de pertencer à França, à Alemanha e à Bélgica e teria preferência pelo Reino Unido, pela Irlanda ou pela Espanha.

Os Açores passariam imediatamente para o estatuto de território militar sobre jurisdição norte-americana (com a possibilidade de poder um dia ser um estado associado como Porto Rico, mas excluindo a hipótese de ser um Estado da União, porque ilhas exóticas onde se fala de forma esquisita já eles têm o Hawaii).

A Madeira teria muito provavelmente de se tornar independente, pois não me parece que nenhum país esteja interessado em aturar Alberto João Jardim. Um dia, caso o senhor alguma vez nos falte, poder-se-iam retomar negociações específicas.

Esta proposta radica num pressuposto básico e universalmente aceite: os portugueses, no estrangeiro, trabalham mais e respeitam melhor as regras. Se cada região fosse efectivamente território não-português, os portugueses passariam a viver melhor e tornar-se-iam, definitivamente, um povo de emigrantes. A emigração, na realidade, é o verdadeiro cluster português.

Nota final a despropósito

Uma senhora portuguesa nascida em Moçambique e radicada nos EUA é casada com o mais que provável candidato democrata à Casa Branca e viúva do herdeiro do rei do ketchup. Uma portuguesa de luxo. Dois casamentos com dois senadores federais, um que ganhou a vida com molho de tomate e um outro que a quer ganhar com os tomates de molho.

Por: Nuno Amaral Jerónimo

Sobre o autor

Leave a Reply