Atentados em Istambul contra um banco inglês e no Iraque contra a Cruz Vermelha. Ataque feroz a uma escola judaica em França. O povo da cartilha pós-moderna culpa, obviamente, o Ocidente pelos acontecimentos. Nas ruas de Londres marcha-se contra Bush. Contra a mesma administração que a esquerda europeia acusou no início do seu mandato de ser excessivamente isolacionista. É isso que preocupa a maralha. As culpas do expansionismo económico dos Estados Unidos e do sistema capitalista ocidental. As fontes do descontentamento, como lhe chamam. Completamente enganados, como se pode ver. Não é o sistema económico que o fundamentalismo islâmico recusa. Pelo contrário, foi à sua procura que chegaram à Europa milhões de muçulmanos. É o sistema de valores, é a cultura ocidental que se recusam a partilhar. Que se recusam sequer a admitir que exista ao seu lado. Vários líderes islâmicos da Europa central têm dito nos últimos anos que a sociedade ocidental não está de acordo com os preceitos do Islão. O choque de civilizações está aí à porta. Huntington não falhou muito e Bernard Lewis explica porquê. Na Turquia, no Iraque e em Paris, é também contra a concepção de liberdade e tolerância que se luta.
Deparamo-nos hoje com um discurso que não aceita sequer os preceitos básicos da liberdade individual. Que os combate. Que se aproveita da tolerância do Ocidente para o destruir por dentro. Pior. Que é ajudado por outros quantos discursos anti-ocidentais da intelectualidade nativa e do seu silêncio em relação a atrocidades como aquelas para ganhar terreno. Que confessa ver na situação feminina ocidental um apocalipse civilizacional. Lewis explica que a situação da mulher no Islão é uma das características do atraso e do fundamentalismo instituído.
Não nos venha a esquerda dar lições de moral sobre dignidade e direitos das mulheres enquanto ficar perplexa a olhar para meninas que não podem ser iguais aos meninos só por serem muçulmanas ou se calar quando uma rapariga de 12 anos é casada contra a sua vontade porque é cigana. Isto não é respeito por culturas diferentes. É achar que os seres humanos não têm todos a mesma importância. É aqui que o Ocidente é diferente de qualquer outra civilização. Porque estendeu o valor inequívoco da vida a toda a Humanidade. Não sou multiculturalista. Tenho para mim que a liberdade, o respeito pela vida, as condições mais básicas da dignidade têm um valor moral superior. Posso até aceder (em casos específicos) não as impor a terceiros, mas não posso aceitar, não podemos admitir, depois de tudo o que na história se fez para defender esses princípios, que venha seja quem for e em nome do que for atacar esta base cultural da nossa civilização. Até porque no dia em que essa base ruir, o resto cai também. Incluindo o criticismo.
Não se atribuam, portanto, culpas aos países do mundo ocidental e aos seus líderes onde não as têm. E perceba-se onde estão os discursos e as práticas de intolerância e ódio sem “complexos do homem branco”. Os atentados contra a Cruz Vermelha no Iraque ou os ataques à escola judaica em França não são culpa dos americanos nem dos judeus. São da responsabilidade exclusiva daqueles que os cometeram.
Por: Nuno Amaral Jerónimo