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«Devíamos, de uma vez por todas, libertarmo-nos deste estigma do “deficiente”»

Cara a Cara – Entrevista

P – Foi reeleito recentemente para o cargo de presidente da Cercig, ficou satisfeito?

R – Sim. Porque se trata de dar continuidade a um trabalho. Neste momento a Cercig está a desenvolver muitos projectos, alguns relacionados com os jovens e outros com os próprios pais, que têm que continuar. Foi nessa perspectiva que me candidatei. O primeiro mandato serviu fundamentalmente para desenvolver projectos, colocar algumas actividades em funcionamento e instituir novas valências. Por isso, espero que o segundo seja fundamentalmente para construir, ou seja, pôr em prática aquilo que foi projectado. No fundo, é a continuação de uma direcção que começou a funcionar há três anos.

P – Quais é que são esses projectos?

R – Na primeira fase dotou-se a Cercig de novas valências e actividades. Tanto ao nível do ensino especial, como posteriormente com as actividades ocupacionais. Mais recentemente com o ATL e com o ensino recorrente, e ainda com um centro de recurso local. Depois há outros projectos. O mais importante é, sem dúvida, a construção de uma unidade residencial. O projecto já foi aprovado, mas falta ainda uma estrutura financeira. Já fizemos uma candidatura ao programa Interreg, mas não foi considerado projecto prioritário. Mas para nós é uma prioridade. Gostaríamos de criar uma unidade residencial para aqueles jovens terem um local onde ficar quando precisassem. Seria criar condições para os acolher e dar-lhes mais qualidade de vida.

P – A instituição tem dificuldades em termos de apoio?

R – Para o seu funcionamento e para as actividades que temos vindo a desenvolver não temos grande razão de queixa. Há o apoio do Governo, através do financiamento da Direcção-Geral do Ministério da Educação. Há também o apoio da Segurança Social e do Centro de Emprego e Formação Profissional, com os programas ocupacionais e a formação profissional, respectivamente. Ou seja, para estas actividades não há falta de apoios. Esta questão coloca-se mais com as novas actividades e novas áreas. Actualmente, o ATL está a funcionar, juntamente com a unidade de surdos, mas sem qualquer financiamento. Por isso existe alguma dificuldade em avançar com novos projectos. No caso da unidade residencial avançamos com uma candidatura ao programa Interreg e não foi aceite.

P – Qual é o relacionamento da instituição com a sociedade?

R – É uma questão muito difícil de responder. Costumo dizer que o problema em Portugal não é da legislação, mas da aplicação das leis. Porque estas definem todos os direitos e deveres, o direito à qualidade de vida, o direito à sociedade, entre outros. Mas o que acontece é que esses direitos continuam a ser negados a esses jovens, que permanecem excluídos socialmente quando são cidadãos de corpo e alma. Devíamos, de uma vez por todas, de libertarmo-nos deste estigma do “deficiente”, pois mais não é do que um problema de saúde. Por isso é obrigação da sociedade e das instituições apoiar esses jovens a ter melhor qualidade de vida. Porque eles têm direito à felicidade como todos os outros.

P – Que actividades se desenvolvem na Cercig?

R – Neste momento a instituição já tem alguma dimensão. No caso da valência educativa temos cerca de 30 crianças, que entram aos seis anos. No ano passado começámos com o ensino recorrente, com o apoio da Escola Básica 2,3 de Santa Clara, para que estes jovens possam completar a escolaridade até ao 9º ano. Há também o Centro de Actividades Ocupacionais com cerca de trinta utentes. E depois o ensino profissional, que é desenvolvido na “nossa” quinta, que tem cerca de 60 jovens em formação profissional. Há mais dez jovens no ATL e na unidade de surdos.

P – Ao darem formação profissional a estes jovens, a Cercig pretende colocá-los no mercado de trabalho. Esse processo de integração tem tido sucesso ?

R – Há muitas dificuldades. Mas também há alguns casos de sucesso. Há situações em que a entidade patronal fica contente com o trabalho deles e contrata-os. Mas continua haver muitas limitações, até porque a produtividade desses jovens não é igual à de um “normal”. Com a formação profissional pretendemos que eles atinjam a sua autonomia profissional, social e económica.

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