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Despovoamento ameaça sobrevivência de municípios da região

Nos últimos cem anos, os concelhos do Sabugal, Almeida e Pinhel perderam, em média, 15 mil habitantes

O INTERIOR continua a viagem pela desertificação dos concelhos da região e nesta edição analisa a evolução demográfica de Pinhel, Almeida e Sabugal.

Segundo os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), de 1900 a 1950, a população nestes municípios subiu consideravelmente. É a partir da segunda metade do século XX que se assiste a uma queda abrupta do número de habitantes e que até hoje não mais parou. Se no início do século o Sabugal registava 32.624 habitantes, na década de 70 contava 22.975. Uma redução acentuada que é justificada pela emigração, cujo auge foi em 1966, que “sangrou” este concelho – como outros tantos – em termos populacionais. É também interessante ver que no Sabugal o cume populacional aconteceu na década de 50, quando o concelho teve 43.513 habitantes e foi o segundo mais populoso do distrito da Guarda. Embora na transição de 1950 para 1960 se tenha assistido a uma diminuição acentuada, tendo o município perdido cerca de 5 mil habitantes, o número manteve-se superior ao de 1900, uma vez que nessa altura o município tinha 32.624 habitantes e na década de 60 eram 38.062.

A situação é semelhante nos concelhos de Pinhel e Almeida, sendo possível constatar que no início do século passado o número de residentes, em cada um destes municípios, rondava os 20 mil habitantes. A partir de 1950 a demografia destes concelhos sofreu uma queda, tendo mantido essa tendência até 2015, quando a população média destes concelhos era de cerca de 7.653 habitantes. Os números da evolução populacional são alarmantes e as autarquias lutam, dia após dia, para reverter a tendência de desertificação. Em Almeida, ao longo dos últimos três anos, a Câmara apoiou cerca de 100 projetos agrícolas, sendo que aproximadamente 70 foram implementados por jovens. Esta foi uma das medidas que levou à fixação de alguma população no concelho, mas que não é suficiente. A falta de emprego e a diferença abismal entre o número de óbitos e o de nascimentos continua a existir e para o presidente da Câmara «esses são graves problemas».

António Batista Ribeiro lembra a importância das Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS) que, hoje, são «a principal fonte empregadora do concelho de Almeida» e até mesmo dos restantes municípios do interior. Para o autarca, o passo mais importante a dar para combater o despovoamento é a descentralização. «Pergunto-me porque é que as empresas não se fixam aqui, por exemplo em Almeida, Vilar Formoso ou no corredor da A25. As firmas de exportação teriam aqui ótimas oportunidades, tendo em conta que estamos nos principais eixos rodoviários e ferroviários do país, onde estão as portas para a Europa», afirma. Sobre o futuro da região, o presidente almeidense não mostra grande otimismo, referindo que «se continuarmos a caminhar neste sentido dentro de meia dúzia de anos somos uma reserva natural». No entanto, Batista Ribeiro considera que é possível ter esperança, mas desde que haja «uma vontade política de alterar o rumo das coisas». E acrescentou: «A mudança depende da conjugação entre poder local e poder central. A verdade é que localmente as medidas que são tomadas acabam por ter um efeito quase nulo, terá que haver alterações profundas e isso também tem que partir do Governo», sublinha o edil.

Já António Robalo, autarca do Sabugal, é mais otimista, «embora realista». Na sua opinião, só é possível estancar a «hemorragia do abandono populacional» através de uma aposta do poder local, central e europeu, de modo a «criar dinâmicas de coesão territorial» para distribuir as pessoas por todo o território. «Sabemos que apenas conseguimos fixar algumas pessoas ou, eventualmente, promover o retorno de outras se tivermos atividade económica, se criarmos emprego, riqueza e postos de trabalho», confirma. E avisa: «As palavras estão aí, agora são precisos atos. Como, por exemplo, não fechar serviços e promover o investimento público no interior». Para fixar população no concelho, a Câmara do Sabugal tem apostado no «casamento entre as potencialidades e as vontades». Segundo António Robalo, «estamos a promover a instalação de algumas empresas no território, caso do Soito, com a requalificação de uma antiga fábrica que está em atividade e a receber trabalhadores».

Apesar do seu otimismo, o edil raiano salienta «que este caminho ajuda a estancar este fenómeno do despovoamento, mas dificilmente os nossos territórios voltarão a ter a ocupação que tiveram em tempos». Também o autarca de Pinhel acredita que «mais tarde ou mais cedo esta situação se vai inverter». Rui Ventura adianta que o principal problema na base deste fenómeno é a desigualdade nas apostas no interior e no litoral. «Tem que haver uma estratégia por parte do Governo, no sentido de trazer investimento para esta região e não apenas para o litoral», alerta. No caso de Pinhel optou-se pela redução do IMI e pelo apoio às famílias no IRS. «Continuamos a apostar na atração de empresas para o concelho, inclusive vamos ter mais duas empresas na área da aeronáutica», adiantou o presidente. Rui Ventura afirma que tem de haver «uma articulação perfeita entre o poder local e poder central» para estagnar esta tendência e dar qualidade de vida «aos que cá estão e a um ou outro que possa vir».

Sara Guterres Concelho de Pinhel perdeu cerca de 10 mil habitantes desde 1900

Comentários dos nossos leitores
antonio vasco s da silva vascosil@live.com.pt
Comentário:
As portagens nas antigas SCUT em nada ajudam para que as empresas se fixem no interior. Não é aceitável ser mais barato fazer uma viagem Guarda-Madrid, que ir até Lisboa. São estas medidas que impedem o desenvolvimento do interior, a par da carga fiscal e energética agravada. Olhar para o interior do país implica amar este país por igual. Para quando fazer um fórum com as forças locais e a população em geral para debater ideias, estudo de opinião e tentar encontrar soluções. Temos de fazer levantar uma voz forte que tenha impacto nos meios de decisão do governo. Temos capacidades para poder atrair investimento e fixar os jovens, mas está muito por fazer. Os vários cortes no abono familiar, os salários quinhentistas a rondar a pobreza, o oportunismo e sarcasmo da banca com os juros aplicados… Podia aqui falar muito mais, mas se os problemas estão detectados falta o empenho de todos na defesa do interior.
 
Luis luistolololo@hotmail.com
Comentário:
Quem faz fugir o investimento são estes autarcas, a própria Guarda não está melhor, impostos, IMI e taxas usurárias, com custos de interioridade levam o interior ao deserto. Não se instalam empresas porque os custos são superiores ao litoral e Espanha e não existe ligação entre escolas, universidades e empresas. Como querem empresas ao longo da A25 sem zonas industriais, comerciais e de serviços à altura do séc. XXI. Todos estes autarcas são do séc. XIX.
 

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