Depois da tentativa falhada de fazer da Guarda uma cidade de desporto (entre outros, onde está o centro de estágios de desportistas?), o que durante anos animou o discurso à volta do desenvolvimento da cidade, parece que a ideia agora é a de transformar a Guarda num centro de acontecimentos desportivos. Deve ser esse o propósito, um pouco à semelhança do que se tem passado na cultura, em que a compra de espectáculos tem permitido à autarquia apresentar um programa mensal bem recheado. Neste sentido temos vindo a assistir à realização na Guarda de um conjunto de organizações desportivas, como foi o caso recente da taça latina de andebol, do europeu de andebol de Sub-19 femininos e do mundial universitário de andebol. Brevemente será a vez dos campeonatos nacionais universitários. Numa que outra rotunda da cidade já se vêm os cartazes alusivos às provas para as datas de dois a 10 de Maio.
Comprar eventos desportivos até pode ser uma boa aposta, se do lado das receitas turísticas houver um retorno suficiente que permita cobrir os investimentos feitos (e se a cidade possuir infraestruturas que o permitam). Claro que nas contas do deve e do haver terão de constar além dos ganhos da hotelaria e da restauração os custos directos e indirectos que serão suportados pela autarquia. A somar aos subsídios haverá que fazer contas a transportes, a despesas de secretaria e à afectação de pessoal para fazer face às necessidades logísticas e organizativas. A acrescentar a tudo isto há a questão dos custos com as instalações desportivas. Na Guarda só há dois pavilhões gimnodesportivos (com um mínimo de condições para o espectáculo desportivo), o do Inatel e o de São Miguel. Ambas as estruturas estão afectas à realização de aulas curriculares de educação física das escolas (para além das muitas colectividades e empresas que utilizam os pavilhões fora dos horários lectivos). Como fazer então para conciliar os interesses? A solução é parar as aulas? Esperar que o tempo ajude e que seja possível leccionar na rua (mesmo que para tal não exista resposta em termos de balneários)? Será que a autarquia fez contas a estes prejuízos? (só para dar uma ideia da grandeza do incómodo que vai ser a interrupção das aulas, faça-se a conta a 7 dias x dois pavilhões x 7 horas x 3 turmas x 25 alunos), muito, não é? Será que alguém pensou nisto?
Quanto ao desporto universitário propriamente dito. Nunca percebi porque razão há-de haver distinção entre desporto universitário, de trabalhadores, de militares, escolar ou de outras agremiações do género. Porque não um só desporto, o federado? E porque não proporcionar aos estudantes ou militares ou trabalhadores (sem conotações!), as condições para a prática desportiva generalizada mas de índole recreativo, sem a criação de um sub-sistema desportivo? Aqueles que quisessem entrar em competição teriam sempre a hipótese do quadro competitivo federado. Não seria uma maneira de fazer mais desporto com o mesmo investimento? Em vez de se afectarem verbas para a organização de campeonatos de nível duvidoso teríamos a possibilidade de com essas verbas criar mais estruturas e equipamentos para a prática desportiva.
Por: Fernando Badana