Arquivo

Desemprego aumenta pobreza na região

Segundo estudo realizado pela Cáritas Diocesana da Guarda

Um estudo sobre a caracterização da pobreza na Diocese da Guarda revela que as pessoas mais carenciadas são maioritariamente do sexo feminino, têm entre 40 e 60 anos, são sobretudo inactivos e possuem fracas habilitações. Trata-se de um estudo realizado pela Cáritas Diocesana da Guarda, entre 1 de Março de 2005 e 28 de Fevereiro de 2006, no âmbito do projecto “De Mãos Dadas”, apoiado pelo Programa Operacional Emprego, Formação e Desenvolvimento Social.

O livro chama-se “Mais próximo do próximo – Caracterização da Pobreza na área de influência da Diocese da Guarda” e foi apresentado no sábado passado, no Centro Apostólico de D. João de Oliveira Matos. O evento contou com a presença do Bispo da Guarda, D. Manuel Felício e os professores da Universidade da Beira Interior (UBI), Pires Manso e João Neves, que integraram a equipa que organizou o estudo, no âmbito de uma parceria entre a Cáritas e a universidade. «Pretendemos que este objecto de estudo se transforme em sujeito», explicou Paulo Neves, coordenador do trabalho. Para a sua elaboração foram tidos em conta aspectos relacionados com saúde, emprego, educação, habitação e poder económico dos inquiridos, tendo sido efectuados cerca de 365 questionários junto de famílias carenciadas da Diocese. O que perfaz um universo de cerca de 1.400 pessoas, as quais foram sinalizadas com base em informações dos párocos e dos presidentes de Junta. «Há já algum tempo que desenvolvemos estudos para melhor conhecer a diocese», justifica Isabel Varandas, presidente da Cáritas Diocesana da Guarda.

O último foi feito em 2003, mas «só abrangeu a Guarda e a Cáritas Paroquial de Gouveia», recorda. Daí que se tenham agora dedicado a um trabalho «mais abrangente». No prefácio da publicação, D. Manuel da Rocha Felício refere que com a elaboração do estudo a Cáritas Diocesana da Guarda «passa a contar com um instrumento de análise científica notável». O diagnóstico revela que as pessoas mais carenciadas são «maioritariamente do sexo feminino, com idades compreendidas entre os 40 e os 60 anos, mas também entre os 20 e 40 anos. É casado, tem nacionalidade portuguesa e o primeiro ciclo do ensino básico ou inferior como habilitação, com forte possibilidade de ser analfabeto». Quanto à habitação, «como a maioria vive no meio rural, têm casa própria, mas bastante degradada», constata Isabel Varandas. Por vezes, sem água, nem electricidade, nem gás, nem rede de esgotos e mesmo sem cozinha, casas de banho ou quartos.

Pobreza «persistente»

Através deste estudo também pretendem provar que «as pessoas mais necessitadas, não têm recursos para custear medicamentos ou exames médicos», realça Isabel Varandas. Apontando como lacuna, «a falta de saúde pública na área da estomatologia». Sendo que a maior oferta de emprego que existe na região é no comércio, o qual exige apresentação, «logo, estas pessoas ficam colocadas de parte», verifica. O seu sustento é principalmente assegurado por uma reforma, pelo seu salário ou pelo Rendimento Social de Inserção. Outra das conclusões aponta que a situação de pobreza «é persistente», diz Isabel Varandas, pois já se arrasta há, pelo menos, cinco anos, sendo em muitos casos herança de gerações anteriores. A principal causa de pobreza é o desemprego, seguindo-se a doença e a invalidez. Para ajudar a ultrapassar este cenário “negro” é proposto apoio na melhoria das condições de habitação e na criação do próprio emprego. A dirigente assegura que «o trabalho não foi feito para ficar arrumado na gaveta», tanto mais que «já estão previstos alguns vectores de actuação». Para tal, entre outras medidas, vão ser criados grupos sócio – caritativos «para chamar a atenção das comunidades católicas e tentar colmatar os casos pontuais», garante.

Patrícia Correia

Sobre o autor

Leave a Reply