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«Desejamos que o ensino da música seja estimado por quem nos governa»

Cara a Cara – Barata Gomes

P – Qual é a dinâmica do Conservatório de Música da Covilhã quando comemora o seu 52º aniversário?

R – Fazemos um esforço no sentido do Conservatório continuar a ser uma instituição viva, dinâmica, com bastante prestígio na cidade e com qualidade em termos de ensino, daí continuarmos a merecer a preferência dos encarregados de educação. É uma instituição que faz parte do Orfeão da Covilhã, que comemorou 87 anos de existência a 16 de novembro. Já o Conservatório celebrou 52 anos a 21 de novembro. Concentramos habitualmente estas duas efemérides, conciliando também com o dia de Santa Cecília, padroeira dos músicos, que se comemora a 22. Para assinalar o aniversário fizemos algumas atividades que abrangeram quase todos os alunos do Conservatório e fizemos um workshop relacionado com música e dança. À tarde realizámos audições a alunos instrumentistas e à noite tivemos um ensemble em que praticamente todos os professores atuaram e também o Coro do Orfeão, que hoje tem cerca de 50 elementos. O Conservatório foi criado há 52 anos e há cerca de 30 entraram em funcionamento duas escolas, uma de pré-escolar e outra de primeiro ciclo. Também temos uma escola de ballet, de dança. Nestas quatro valências temos cerca de 500 alunos.

P – Isso no Conservatório ou no Orfeão?

R – Está tudo interligado. O Orfeão é a entidade mãe e depois dela é que cresceram as escolas, o Conservatório e a escola de dança. Não há situações autónomas.

P – De que idades são esses alunos?

R – Temos alunos do pré-escolar, a partir dos três até aos cinco, seis anos. Depois temos o primeiro ciclo do ensino básico até aos 10 anos. Os alunos mais velhos andam entre os 60 e 70 anos, mas são casos residuais. De resto, a maior parte dos alunos de música estão no ensino articulado em que fazem um percurso de ensino nas escolas regulares, no 5º, 6º e 7º ano, e depois têm uma parte vocacional que é a de música no Conservatório. Esse ensino articulado é totalmente financiado pelo Ministério da Educação, pelo POPH – Programa Operacional Potencial Humano.

P – Com a crise o número tem-se mantido estável ou tem havido um decréscimo?

R – Até há dois anos a esta parte houve sempre um crescendo. Já no ano passado e neste houve uma redução mas com pouca expressão. Está a baixar em termos do pré-escolar fundamentalmente e a nível da música até aumentou o número de inscrições. Direi que, no conjunto de todas as matrículas, o número de alunos da instituição tem-se mantido.

P – Qual teria sido a prenda ideal para o Conservatório nesta data?

R – Em tempos já tivemos o sonho de mudar de instalações. Não o fizemos num tempo em que talvez houvesse mais condições. Acabámos por reestruturar de forma geral toda a estrutura das instalações e renovámos muitos espaços. Temos um projeto em que iremos renovar mais e estamos à espera também de algum apoio nesse sentido. Embora sendo um sonho, em termos futuros não é certamente possível de concretizar, uma vez que o investimento será bastante grande. Também estamos no centro da Covilhã e a cidade acaba por se desertificar, uma vez que alguns negócios vão fechando e isto, no fundo, também acaba por ser um negócio já que os encarregados de educação pagam mensalidades e sair da cidade seria um prejuízo para a malha urbana. Vamo-nos mantendo aqui, temos outras instalações que alugámos aqui bem perto. O que todos desejamos neste momento é que a cultura e o ensino da música sejam estimados por quem de direito, nomeadamente por quem nos governa, e que o país e as pessoas possam viver mais felizes o mais rápido possível e ultrapassar esta crise que todos sentimos e a que esta instituição também não é alheia. A parte financeira é sempre importante e as coisas não funcionam sem dinheiro, que também não é muito devido à crise. Podíamos ter mais alunos e provavelmente não os temos porque poderá haver alguma dificuldade nas famílias, se bem que no Conservatório isso não é muito sentido. Também esperamos que o próximo ano, em termos de ensino pré-escolar e 1º ciclo, possa ser melhor até porque vai haver uma oferta, pelo menos assim diz o Governo, do cheque ensino para os encarregados de educação escolherem entre o público e o privado, o que esperamos que possa eventualmente ser um motivo de crescimento em termos de alunos.

P – Quantos trabalhadores tem o Conservatório?

R – Neste momento temos 48 colaboradores, dos quais 25 são professores de música. É certo que não estão todos a tempo inteiro porque também depende do número de horas que têm em relação a cada um dos instrumentos. Todos eles têm formação superior. Aliás, a particularidade dos Conservatórios e das Escolas de Música que estão credenciadas pelo Ministério da Educação é precisamente que não podem ter professores que não tenham um curso superior. É a diferença que nos separa de outras escolas de música que existem pelo país, e também na Covilhã, e isso implica outro tipo de salário a pagar e consequentemente uma maior necessidade de recursos financeiros para manter sustentável essa mesma atividade. Os outros são professores do 1º ciclo e também educadores com cursos superiores, num total de 10. Os restantes são auxiliares, e o volume salarial mensalmente já é bastante elevado.

P – Ao longo destes 52 anos já passaram pelo Conservatório da Covilhã muitos talentos musicais? Continuam a existir alunos com potencial para fazer carreira na música?

R – Sim, já passaram por aqui alunos com um grande potencial e muitos deles tiraram cursos superiores na área. De resto, temos um número significativo de professores de música que foram nossos alunos e hoje estão cá a dar aulas. Existem de facto alguns alunos que iniciaram aqui a sua formação musical que hoje estão bem referenciados e com funções bastantes interessantes em termos do panorama nacional. Atualmente, temos alunos que poderão seguir esses passos. Temos duas orquestras interessantes, uma de cordas com 20 e poucos alunos, e outra de violoncelos com 14 alunos, o que nos dá um potencial bastante grande, até porque pensamos que trabalhar em grupo lhes dá mais estímulo e vontade de irem para a frente.

Barata Gomes

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