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Descontinuidade

Saliências

Um tiro na noite e um corpo no chão, uma miúda a gritar, um tipo a correr e dois atrás dele. Uma mulher com dois homens fica com um no chão e um a fugir. O destino mudou para todos à velocidade de uma bala na noite, de um som escutado das janelas. Um rapaz num bar, um copo na mão, um copo na cara, um amigo com um pau, uma cabeça aberta, gritos na noite e muita gente a correr. Um tipo no chão, outro com um pau espantado, outro com a mão na cara e sangue a escorrer. Havia dois amigos num bar e uma noite para beber. Houve umas frases azedas, uma miúda galada erradamente e uma briga da velocidade dum taco a correr a noite e a bater numa cabeça parada. Um carro numa esquina e outro que quer entrar. Um tipo que gesticula e outro que responde. Portas que se abrem, gente que se agride e um som de bala a percorrer a curta distância entre a vida e a morte. Foi só um cruzamento, uma teimosia, uma troca estúpida de palavras. Agora está um homem no chão, uma família desfeita e um tipo que foge e outra casa estragada. A descontinuidade de uma vida faz-se num instante e é deste momento que temos medo quando os rapazes saem de casa. Estranhos receios intoxicando a vaidade de os ver crescer, criando pânicos se as horas passam e eles não chegam. Caramba, há que conter estes medos mãe.

Por: Diogo Cabrita

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