No âmbito dos trabalhos de requalificação e valorização do Terreiro da Batalha de Trancoso foi encontrado um alicerce, com cerca de um metro de altura, que se supõe corresponder à antiga capela de S. Marcos. Esta descoberta vem corroborar o que muitos investigadores escreveram sobre a localização e o incêndio daquele antigo templo, mas acentua também a importância do local na História de Portugal.
A Câmara de Trancoso, a Fundação Aljubarrota e o Instituto Português do Património Arquitectónico (IPPAR) têm um projecto em comum que passa pela valorização de determinados espaços históricos e pelo reavivar da memória. Em Aljubarrota já foram feitas escavações, mas em Trancoso ainda havia que alicerçar essas hipóteses. Ou seja, «faltava a prova material», explica Maria António Amaral, técnica da Fundação Batalha de Aljubarrota, que neste caso trabalha em representação do IPPAR. «Este alicerce pode ser o comprovativo que faltava», acrescenta. Mas para já tudo não passa de «suposições», alerta a responsável pela prospecção da envolvente da capela de S. Marcos, anunciando que os trabalhos vão prosseguir. De acordo com as crónicas de Fernão Lopes e os relatos de D. João I, a capela originária terá sido queimada por D. João de Castela em 29 de Maio de 1835 como vingança pela derrota castelhana na famosa Batalha de S. Marcos. No entanto, há estudos do historiador Salvador Dias Arnaut que defendem que a peleja aconteceu perto da capela. Foram estes relatos que estiveram na origem da reconstrução do actual templo, também uma forma de evocar uma batalha decisiva para a independência de Portugal em que os castelhanos foram deixados a “pão e laranjas”, como rezam as crónicas.
«Mas nunca se tinha descoberto algo que pudesse ancorar essas hipóteses até hoje», acrescenta a arqueóloga. De resto, as prospecções geofísicas estão a decorrer em Trancoso na sequência do projecto de arranjo paisagístico e de construção do Centro de Interpretação daquela batalha. Para Maria António Amaral, «a metodologia utilizada foi a mais adequada», mas ainda é necessário «prospectar toda a área envolvente». Como o espaço da investigação é muito vasto foi necessário dividir os trabalhos por fases. Durante a prospecção geofísica num local perto da actual capela, algumas anomalias chamaram a atenção dos arqueólogos, que abriram de imediato a sondagem e descobriram um alicerce com cerca de um metro de altura, que «se pressupõe que seja de um grande edifício, como devia ser a antiga capela», adianta. Entretanto os trabalhos vão ser alargados e serão feitas mais prospecções, por exemplo, no local que Salvador Dias Arnaut indica como sendo o epicentro da batalha. Outros pontos onde foram detectadas mais anomalias também vão ser melhor estudados. É que os arqueólogos esperam encontrar vestígios associados à batalha, «como valas comuns, já que ali morreram muitos espanhóis», recorda. Para já, está descoberta é «uma batalha ganha, especialmente pelo município de Trancoso, devido ao seu empenho no projecto», elogia Maria António Amaral.
Patrícia Correia