Numa recente série de trabalhos sobre o território interior de Portugal promovida pelo jornal “Público”, João Ferrão, coordenador do grupo de investigação Ambiente, Território e Sociedade do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, afirmava que «o problema do chamado interior começa logo nas nossas cabeças».
De facto, o conceito de território “interior”, mais do que uma realidade – que é – configura também um obstáculo mental a qualquer tipo de iniciativa e um capital argumentativo que, longe de resultar, tem muitas vezes servido também para legitimar uma atitude de inação.
A recente apresentação do Programa Nacional para a Coesão Territorial, constitui para o nosso território a razão de uma renovada esperança para o ano de 2017.
2017 tem de ser, acima de tudo, uma ano de mudança de imagem, do interior, no geral, e da Beira, em particular. O nosso território – não obstante ter de continuar a reivindicar uma igualdade de oportunidades que efetivamente não tem – necessita de se descomplexar e de passar a ser encarado como um território nada periférico em relação ao mundo globalizado do nosso século.
Os sinais já dados por este Governo no ano que passou demonstram uma determinada vontade de enveredar por uma opção de investimento no interior. Veja-se, como exemplo:
a) A criação da Unidade de Missão e Valorização para o Interior;
b) A aposta na requalificação da ferrovia, particularmente na ligação Guarda-Covilhã;
c) A redução nos custos das portagens nas autoestradas A23 e A25;
d) Aposta na valorização turística do interior através do Programa Valorizar,
É com esta perspetiva que encaro este novo ano, ciente de que este combate não depende apenas das medidas necessárias e importantes do poder central, necessitando também de todo o empenhamento local, de todo o nosso esforço, de toda a nossa energia e em conjugação com todos os agentes de desenvolvimento da região.
Espero que este novo ano nos traga um reforço da cooperação na região, particularmente uma cooperação intermunicipal mais eficaz e atuante.
Amílcar Salvador
* Presidente da Câmara de Trancoso
