Arquivo

Deputados chumbam reabertura da linha da Beira Baixa até à Guarda

Eleitos do PSD pelos círculos da Guarda e Castelo Branco votaram contra projetos de resolução da oposição que reclamavam a conclusão da requalificação dos quilómetros que faltam desde Belmonte.

Os deputados da maioria PSD/CDS-PP, inclusive os eleitos pelos distritos da Guarda e Castelo Branco, chumbaram na Assembleia da República, na passada sexta-feira, os projetos de resolução do PS, PCP, BE e de “Os Verdes” para a reabertura do troço ferroviário da Linha da Beira Baixa entre a Guarda e a Covilhã.

Com 44 quilómetros, esta ligação entre as duas cidades está fechada desde 2009, apesar de terem sido gastos 7,5 milhões de euros na melhoria da via entre Caria e Belmonte e mais 2,5 milhões na reabilitação do túnel do Barracão (Guarda). De resto, esta foi a única intervenção concluída no concelho da Guarda, onde pontes e ferrovia continuam por requalificar. Falta também a eletrificação do último troço da Linha da Beira Baixa até à cidade mais alta – atualmente, esta melhoria acaba na Covilhã, onde chegou em novembro de 2011. Os quatro projetos de resolução defendiam a finalização das obras e a reabertura de um troço que os partidos da oposição consideram de «fundamental importância para a região e para as populações». Na última sessão do ano do Parlamento, o deputado socialista Paulo Campos, eleito pelo círculo da Guarda, acusou o atual Governo de ter interrompido os trabalhos de beneficiação entre as duas cidades e de ter acabado com o serviço de transporte alternativo. «O Governo do PS fez investimentos fortíssimos na reabilitação desta linha e iniciou a requalificação deste troço que está fechado. Para que as obras fossem concluídas foi disponibilizado um serviço de transporte alternativo rodoviário, mas este Governo nunca avançou com as obras, nunca reabriu a linha e suspendeu o serviço rodoviário», criticou.

Pelo mesmo diapasão afinou Paula Santos. A deputada do PCP disse ser «indiscutível a urgência e a necessidade da conclusão destas obras, pela mobilidade das população, pelo desenvolvimento local, mas também por permitir que a linha da Beira Baixa seja uma alternativa à Beira Alta». Também Heloísa Apolónia (“Os Verdes”) defendeu tratar-se de «um investimento determinante para combater as assimetrias regionais e uma infraestrutura essencial para a mobilidade das populações», enquanto Mariana Mortágua (BE) sublinhou que a requalificação deste troço e a sua abertura «imediata» vai garantir «os serviços mínimos de transportes públicos», pois, desde o seu encerramento, «há vilas que ficam sem qualquer acesso a transporte público». Pela maioria, João Prata (PSD) recordou que o PS esteve «13 anos no Governo e não conseguiu requalificar na totalidade a linha da Beira Baixa».

O deputado eleito pelo círculo da Guarda afirmou mesmo que a obra «encansinou no tempo do poderio socialista, esta é a verdade verdadeira», acrescentando que foi o PS que propôs à “troika” o fecho da ligação Guarda-Covilhã. «Em 2011, e com um despacho do Governo socialista, foi entregue um mapa onde havia o compromisso de encerrar de vez a linha da Beira Baixa» naquele troço, recordou o social-democrata. Segundo João Prata, é o atual Executivo «que está a criar as melhores condições para que a linha continue a ser utilizada e desenvolve esforços notórios para concluir efetivamente a rede ferroviária fazendo cruzar a linha da Beira Alta e a linha da Beira Baixa». O deputado referia-se à criação de um grupo de trabalho, «que, pela primeira vez, reúne os Ministérios da Economia e das Obras Públicas, para que sobre os transportes subsista um efetivo pensamento estratégico e evite que no futuro o litoral continue a ser privilegiado em detrimento do interior».

«Vergonha» e «indignação» contra votação no Parlamento

«Vergonha» foi o que sentiu José Igreja ao saber que os deputados do PSD eleitos pelos círculos da Guarda e Castelo Branco votaram contra a reabertura da linha da Beira Baixa até à Guarda.

O sentimento foi partilhado pelo vereador do PS na reunião de Câmara da cidade mais alta, na última segunda-feira, e não encontrou eco do lado da maioria. Surpresa das surpresas, Álvaro Amaro disse que estava a ouvir falar do assunto «pela primeira vez» e que ia procurar saber «qual foi a figura parlamentar para saber o que foi ou não discutido e votado na Assembleia da República». Lembrando a disciplina de voto a que os eleitos «normalmente» estão sujeitos, o presidente da Câmara acrescentou que não lhe «passa pela cabeça que qualquer deputado, da Guarda ou de Castelo Branco, seja contra a reabertura da linha da Beira Baixa». De resto, adiantou que as obras de modernização em falta não vão ser retomadas «apenas com dictates políticos, mas com opções do Governo».

O assunto também mereceu uma reação dura do Bloco de Esquerda da Guarda, com Marco Loureiro a recordar que «o primeiro passo» para o fecho da ligação entre a Guarda e a Covilhã foi dado pelo Governo liderado por José Sócrates. «Os socialistas também têm responsabilidade neste impasse, ao qual a atual coligação PSD/CDS-PP determinadamente se agarrou». Por sua vez, Júlio Seabra, que dinamizou um movimento cívico pela reabertura deste troço, considerou que o chumbo das propostas «ostraciza o interior, colocando-o cada vez mais longe do litoral». Já Pedro Tavares, presidente do NERGA – Associação Empresarial da Região da Guarda, disse «muito indignado» pelo sucedido na Assembleia da República. «Isto é muito mau para a nossa região, pois a reabertura deste troço seria uma alternativa rápida à autoestrada A23 (Guarda/Torres Novas, onde se pagam portagens, e um eixo de ligação entre a Guarda, a Covilhã e o Fundão, que fazem parte da nova Comunidade Intermunicipal das Beiras e Serra da Estrela», afirmou.

Luis Martins Troço está fechado desde 2009 apesar da REFER ter investido 2,5 milhões na reabilitação do túnel do Barracão (Guarda)

Sobre o autor

Leave a Reply