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Demónios de nós

Bilhete Postal

Pudores de todos: Fel, Urina, Suor, Hálito, Fezes.

Azares de nós: desemprego, tragédia, assalto, assassinato, doença, pobreza. Características más gerais: melancolia, ciúme, dogmatismo, medo, apatia, vergonha, timidez, preguiça, ira, luxúria, vingança, gula, avareza, vaidade, inveja, inconsciência, infantilidade, sujidade, vício, egoísmo. Os desejos: dinheiro, sexo, poder, fama, amor, felicidade, paz, tranquilidade, estabilidade, saúde. Fobias tremendas: morte, dor, predadores, solidão, vazio. Desagrados frequentes: insulto, troca, perca, confusão, desilusão, inadequação, assédio, ameaça. O pior de nós: demência. Os demónios soltam-se todos e vemos as características más, a ausência de pudores, o desaparecimento dos desejos, impermeabilidade aos azares. Na completa demência, todos os seres humanos são imorais, exibem o sexo, espalham as fezes, agridem sem freio. Esta perda da razão é a mais complexa retirada do homem de dentro de si. Quem somos? Para onde vamos? O que fazemos aqui? Nenhuma dúvida lá prevalece além dos gestos desconexos e das necessidades básicas. O único animal que conheço que um dia, demente, não se importa de dormir sobre suas necessidades é o ser humano. Porquê? Que demónio é este que nos assalta quando o cérebro não raciocina, quando a memória se vai, quando a dignidade acaba? O corpo sem a dignidade é particularmente atroz, difícil, chocante, surpreendente. O destino tem de ser discutido e deve ser refletido para evitar este fim, se não queremos morrer deste modo.

Por: Diogo Cabrita

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