A democracia tem um novo sistema de representação do povo – a “sondagem”. Quem não vence nas sondagens, nem sequer chega a ser candidato. Nem sequer tem a possibilidade de disputar eleições. As antigas forma de representatividade do povo parecem obsoletas face ao imediatismo de uma consulta popular instantânea!
Desde logo, baixam os custos. É um processo relativamente barato, comparado com os custos de eleições nacionais.
Proporcionam uma arma de arremesso ao povo. Pode sempre mostrar o seu apoio ou o seu agrado, em cima do acontecimento, sem ter de esperar por novo acto eleitoral.
Não exigem acções colectivas. Não são precisos os partidos, associações, campanhas, manifestos… no meio da apatia, do analfabetismo político e do absentismo de ideias e acções, surgem os resultados.
Não exigem mobilização. Podemos aproveitar as pontes para mini-férias. Os dias de sol na praia ou no campo. Os dias de chuva à lareira. Não precisamos de ir ao local de voto, encontrar o cartão de eleitor perdido, esperar na fila….
Acontece que esta nova versão da democracia opinativa instalou um círculo vicioso – a “sondagens” têm um ciclo de vida relativamente curto. Valem o que valem…por dois ou três dias!
A “sondagem” é o sistema da democracia de tendências, que mais que opiniões lúcidas reflecte – quanto a mim – estados de alma! Mas um sistema, que pela força mediática dos nossos dias condiciona os poderes instituídos. A tirania das “sondagens”, dos humores do povo, obriga os poderes a inflectirem a sua acção, a titubearem nas suas convicções. A sociedade moderna tem por isso líderes cada vez menos líderes. É a vitória do populismo. Da política mediática. Do pronto a servir.
É por isso que o marketing político tem hoje duas grandes escolas.
Por um lado, a escola antiga:
– temos um homem com ideias. Como convencer o povo de que as suas ideias são as melhores?
Mas uma nova estratégia fez escola:
– Temos um homem. Vamos ver o que pensa o povo. Vamos adaptar o nosso homem ao que pensa o povo. Vamos ganhar.
Não tenho dúvidas. A segunda fórmula é vencedora. Mas efémera. Porque as tendências mudam, as “sondagens” mudam… e os líderes populistas vêm o feitiço virar-se contra o feiticeiro. De bestial a besta em dois segundos.
É na escola antiga, das ideias, das lutas ideológicas, que se encontram os que fazem carreira política, os que deixam páginas de histórias, com vitórias e fracassos, mas com convicções.
A democracia de pacote, feita de líderes de papel, bamboleantes ao vento das opiniões, enfraquece o nosso sistema político. Fica nas mãos dos grupos económicos que lançam “sondagens” dia-a-dia de qualidade duvidosa e de intuitos duvidosos. Impedem os poderes de projectar a médio e longo prazo e obrigam-nos a viver de medidas efémeras, para o imediato.
E se o povo se ilude que este é o seu poder, então, como alguém disse: “a democracia é o sistema pelo qual o povo só tem o que merece!”
Por: João Morgado