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Delphi cada vez mais a prazo na Guarda

Responsáveis do grupo já tentaram saber da possibilidade de alterar uso dos terrenos no PDM de forma a permitir a construção

O futuro da Delphi na Guarda está cada vez mais incerto. A crise que afecta o sector das cablagens, provocada pelas deslocalizações para a Ásia e Europa de Leste, não esmoreceu em 2006 e poderá arrastar a fábrica de cablagens da Estação nos próximos tempos. A situação não é nada animadora e está cada vez mais dependente do mercado das encomendas de componentes e do que vai acontecer à casa-mãe nos Estados Unidos. Neste momento nenhum cenário está excluído, sendo que o encerramento é o mais recorrente. «Novos contratos só serão um “balão de oxigénio” em 2007, pois a unidade da Guarda estará no topo da lista para fechar», apurou “O Interior” junto de fonte conhecedora do “dossier”.

A tal ponto que altos responsáveis portugueses do grupo tentaram recentemente saber da possibilidade de alteração do uso industrial definido no Plano Director Municipal, cuja alteração está em curso. É que a Delphi é proprietária dos mais de 50 mil metros quadrados – 20 mil dos quais só de área edificada – onde labora a unidade guardense e não tencionará perder tudo se a fábrica encerrar. A ideia era conseguir a sua classificação como área de construção, o que permitiria a sua colocação no mercado imobiliário e garantiria uma valorização substancial dos terrenos. No entanto, tudo não passou das intenções, uma vez que a equipa que está a trabalhar na redefinição do PDM na Câmara da Guarda não chegou a ser confrontada com esta solução. Mas “O Interior” sabe que a autarquia não estará disposta a abrir mão daquilo que considera ser um «trunfo» para a viabilidade de um futuro investimento industrial naquela zona, como aconteceu com a saída da Renault na década de 80. Para já, a Delphi da Guarda parece gozar de uma moratória sem prazo. «Tudo pode acabar nos próximos meses, como durar mais uns anos. O futuro da fábrica vai escrever-se consoante as flutuações do mercado das cablagens, sendo certo que a situação actual não é um bom presságio, pois há menos encomendas e muitas reclamações dos clientes», garante a mesma fonte.

Depois de ter dado trabalho a mais de duas mil pessoas, a fábrica termina o ano com menos de 900 trabalhadores em consequência da não renovação de contratos de trabalho e da negociação de saídas antecipadas de alguns dos seus quadros. Este cenário tem causado alguma agitação no seio dos trabalhadores, cada vez mais apreensivos quanto ao seu futuro a curto prazo. «Um dos grandes dramas é a incerteza que temos, já que ninguém dá garantias de coisa nenhuma», admitiu um deles, sob anonimato, para evitar represálias. A Delphi, que declarou falência há 14 meses nos Estados Unidos, tem cinco fábricas activas em Portugal: Braga, Guarda, Castelo Branco, Ponte de Sor e Seixal. Em Braga continua a fabricar-se auto-rádios, no Seixal a produção assenta em sensores e ignições electrónicas e a unidade de Ponte de Sor é de sistemas de “airbag”. Já a Guarda e Castelo Branco, como as extintas unidades do Linhó e Carnaxide, são fábricas de cablagens, podendo estar em causa mais de 1.200 trabalhadores. No entanto, foi recentemente noticiado pela imprensa da especialidade o interesse do segundo accionista da Delphi, a Highland Capital Management, investir 3,6 milhões de euros na recuperação do fabricante norte-americano de componentes automóveis.

Essas notícias aludiram mesmo a uma recente reavaliação das unidades do grupo no nosso país, segundo a qual as fábricas de cablagens e de “airbags” foram consideradas «estratégicas». Apesar das várias tentativas, não foi possível obter, por parte da administração da Delphi em Portugal, quaisquer esclarecimentos sobre o futuro da fábrica na Guarda.

Luis Martins

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