Aos 28 anos, Graciete Terras, conseguia o seu primeiro emprego, como costureira especializada na Gartêxtil, na Guarda-Gare. O tempo foi passando, e hoje, passados 15 anos, a mãe de três filhos fala com grande tristeza do impasse vivido na empresa. A revolta e o desânimo têm preenchido os seus dias que se tornaram monótonos, sem o ritmo da máquina de costura.
Para Graciete Terras, a «luta devia continuar», não concordando com a assinatura da rescisão do contrato, embora o tenha feito, sublinhando que quando for iniciado o processo de falência «acaba-se tudo». Os dois últimos anos «não têm sido fáceis», confessa a operária. Com três filhos a seu cargo, dois dos quais menores de idade, e só com o ordenado do marido, camionista, «a vida tem sido muito complicada», garante. «Um só ordenado torna-se curto», para pagar empréstimos, despesas escolares dos miúdos e os restantes consumos domésticos, explica Graciete Terras. A profissão do marido «ainda dificulta mais o apoio ao seio familiar», visto que nem sempre pode estar presente. Mas a sua história, infelizmente, é semelhante a muitas colegas, como faz questão de salientar: «Pior ainda foi para os casais que trabalhavam na empresa», lembra. Desde que foram suspensos do trabalho e a empresa deixou de laborar, os trabalhadores passaram a receber um subsídio do fundo de desemprego, tendo sido inseridos em programas de actividade ocupacional. Entretanto, através deste programa, já esteve a trabalhar como auxiliar de educação na Escola Augusto Gil, na Guarda. De início, a adaptação ao novo trabalho foi difícil, pois «foram 15 anos a fazer o mesmo», comenta. Mas quando já estava adaptada e a «gostar do que estava a fazer», já tinham passado nove meses, e o prazo do contrato tinha terminado, destaca a operária. «É assim que se passa também com os meus colegas. Acabam os nove meses e somos despedidos», conta. Ainda durante este mês, termina o subsídio, continuando em casa, sem receber nada. Desde que deixou o estabelecimento escolar, o seu quotidiano tornou-se uma monotonia, sem o ritmo do trabalho-casa e vice-versa.
Graciete Terras perdeu a esperança de voltar a trabalhar na Gartêxtil, e até «já nem» acredita nos 6.200 euros de indemnização, prometidos pelo Sindicato. Por tudo isto, integra um pequeno grupo de trabalhadores que não concordam com este «baixar dos braços», considerando «que se deve continuar a lutar», diz. Para quem já esperou dois anos, o tempo já não tem o mesmo significado, por isso a «falência só devia acontecer em último caso». Apesar de ter consciência de que «já ninguém vai assumir a direcção» da empresa, «a esperança é sempre a última a morrer». Até porque, Graciete Terras acredita que quando for decretada falência vão haver alguns empresários interessados na fábrica.
No entanto, na passada segunda-feira, acabou por assinar a rescisão do contrato, apesar de contrariada. «Esperei que a maioria dos colegas assinasse», conta entristecida, só assinando «por eles» e não por sua «vontade», diz. «É que deixamos uma vida na empresa» e ao assinar a rescisão, Graciete sente «que fica lá tudo», confessa, de certa forma, revoltada. Durante muitos anos, foi costureira especializada na Gartêxtil, trabalhando «sempre na mesma máquina», recorda. Agora, a vontade é de voltar a trabalhar, mas o problema reside na procura de um novo posto de trabalho. Como não há novas empresas, e as que existem estão lotadas, «é difícil encontrar um trabalho na região».
Patrícia Correia