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Declarações sem graça

Presidente do Colégio de Obstetrícia na Ordem dos Médicos diz que não disse que as maternidades da Guarda e Castelo Branco vão fechar

No pico da polémica sobre o fecho da maternidade da Guarda, Luís Graça desmentiu terça-feira a “O Interior” ter dito «alguma vez» quais os serviços que iam fechar. «Foi uma ilação retirada pela jornalista depois de eu dizer que os serviços com menos de 1.500 partos deviam fechar», defendeu-se o director de Obstetrícia do Hospital de Santa Maria e simultaneamente presidente do Colégio da especialidade na Ordem dos Médicos (OM). Tarde de mais, a julgar pelas reacções suscitadas na cidade e no Hospital Sousa Martins pelas suas declarações ao “Jornal de Notícias” da véspera. A tal ponto que o Conselho de Administração da unidade de saúde pondera queixar-se de Luís Graça à OM.

Na edição de segunda-feira do matutino portuense pode ler-se que a proposta da Ordem para a Beira Interior «é acabar com as urgências da Guarda e de Castelo Branco e direccionar os poucos partos para a Covilhã». O argumento invocado é que «os três juntos têm à volta de dois mil partos. Não se pode esperar mais tempo, porque como está representa um desperdício de recursos humanos excepcional». Um dia depois e já com as “orelhas a arder”, o médico, também membro de um grupo de estudo da Direcção-Geral de Saúde sobre a reorganização das urgências obstétricas, diz que não foi isso que disse, embora reitere a sua posição como técnico: «Tecnicamente, as maternidades com menos de 1.500 partos por ano não podem funcionar». Uma explicação que não surtiu qualquer efeito nos já desconfiados guardenses quanto ao destino deste serviço referência do Sousa Martins. O mal estava feito e vai ter que ser o ministro da Saúde a repará-lo, esclarecendo se o que disse Luís Graça tem ou não fundamento. Assim espera o director do hospital: «Não entendemos as declarações deste senhor, nem em que qualidade as fez. Se calhar gosta muito da Covilhã ou será de lá”, ironizou Fernando Girão, que aguarda uma tomada de posição de Correia de Campos. Entretanto, aproveitou para convidar o obstetra a visitar a maternidade do Sousa Martins e só depois «fazer algum balanço».

Guarda «muito acima de qualquer das outras»

De resto, o médico garante não saber «oficialmente» que a maternidade vá fechar. «A informação que tenho é que a situação será estudada durante o ano de 2006 e que esta decisão não era sequer premente», adianta. Quem já se antecipou foi a Administração Regional de Saúde (ARS) do Centro ao negar qualquer decisão sobre o caso, até porque os estudos ainda estão «em curso», esclarece um comunicado. Sem parcimónia, os obstetras foram os primeiros a reagir. O director do serviço disse-se «admirado» com as palavras de Luís Graça e recordou que a maternidade da Guarda é a que mais partos realizou em 2004 na Beira Interior (851), «muito acima de qualquer das outras», garante António Duarte. Mas é também o serviço com mais especialistas na região: «Conta actualmente com uma equipa de Urgência Obstétrica completa. É a única do interior que garante assistência em Neonatologia, com a presença de um pediatra em cada parto, e dispõe igualmente de um anestesista em permanência», acrescenta. Trunfos que levam este responsável a duvidar dos critérios do presidente do Colégio da especialidade na OM: «Com que critérios é escolhida a Covilhã?», questiona, constatando que tem menos obstetras e partos que a Guarda.

«Até que nos provem o contrário, estamos totalmente convencidos de que, a encerrar alguma maternidade no interior, nunca poderá ser a única existente no distrito da Guarda, a que mais partos efectua e a que melhor qualidade assistencial global fornece às parturientes», considera. Também a direcção de Enfermagem veio realçar os serviços de «grande qualidade» prestados, acrescentando-lhe o argumento das acessibilidades. «É uma maternidade que assegura cuidados a 14 concelhos, alguns dos quais distam mais de 100 quilómetros da capital de distrito», refere Matilde Cardoso. Também o presidente da Câmara da Guarda estranha que Luís Graça tenha feito tais declarações sem que o ministro da Saúde tivesse falado com a autarquia e o Conselho de Administração do Sousa Martins. «Não é esta a forma de resolver politicamente uma situação que nos preocupa de facto, porque este serviço é o mais eficiente da região», considera, prometendo para ontem uma tomada de posição oficial da autarquia.

Luis Martins

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