Aproxima-se o primeiro de três dias decisivos do ano político do país: o dia 7 de Junho, dia das eleições para o Parlamento Europeu. Todos os responsáveis políticos e cidadãos interessados têm ressalvado a importância deste acto, ainda que, aparentemente, o mesmo continue a despertar reduzida motivação por parte dos portugueses.
Não é de mais repetir que hoje em dia, cerca de 60 a 70% da legislação portuguesa (e consequentemente as decisões políticas) decorre de directivas aprovadas em Bruxelas. Só por si, este facto deveria ser merecedor de uma forte participação popular, pois na realidade, o nosso destino traça-se mais em Bruxelas do que em Lisboa. Aqui tomam-se as decisões do “dia-a-dia” ou se quisermos as decisões operacionais, mas as grandes decisões estratégicas, de longo prazo, sem dúvida, que não estão mais sob o inteiro controlo do governo português, seja ele qual for.
Daqui decorre pois, que, como a própria campanha tem demonstrado, não mais é possível pensar a Europa sem pensar Portugal e vice-versa. E por isso, naturalmente que o debate político se tem centrado sobre questões que, ainda que relacionadas, têm a ver com o exercício efectivo do poder político e em concreto, sobre a actuação do Governo. Só faz sentido debater a Europa se analisarmos as consequências e os efeitos que a mesma tem sobre o quotidiano das nossas vidas. Considero pois que o poder político deveria reconhecer que não existem razões suficientemente fortes para desligar as eleições para o Parlamento Europeu das eleições legislativas nacionais. E num contexto de crise como a actual, o povo português teria agradecido uma decisão mais responsável.
O Governo e o PS estão claramente nervosos, sendo particularmente visível a descoordenação total do discurso político entre o cabeça de lista Vital Moreira (VM) e o partido que o apoia, da qual são exemplos o apoio (ou a falta dele) à eventual reeleição de Durão Barroso para Presidente da Comissão, passando pelo imposto europeu que VM não quis (ou não soube) explicar e que todo o partido rejeitou, às acusações e críticas públicas entre dirigentes do PS como foi o caso das declarações de VM sobre a denominada “roubalheira” do caso BPN. Isto para não falarmos na passagem verdadeiramente hilariante do cabeça de lista do PS pela Guarda. Pelo menos ficámos a saber que VM vai ter muito tempo ocupado a “almoçar com os amigos” em Bruxelas como fez questão de frisar publicamente. O PS certamente agradecerá, pois assim evitará mais embaraços.
Em oposição, a campanha de Paulo Rangel, cabeça de lista do PSD, primou pela seriedade, pela acutilância, rigor e pela tentativa de mostrar que afinal a política não é apenas espectáculo e manipulação. Deliberadamente ou não, a verdade é que a “ausência” de Manuela Ferreira Leite da campanha, marcou também uma forma diferente de fazer política: dar a relevância e a visibilidade aqueles que eram de facto os protagonistas desta eleição, resguardando-se para os combates futuros e evitando os erros cometidos pelo PS.
E porque de facto esta eleição implica julgar o desempenho do Governo de José Sócrates, em particular no que diz respeito à sua relação com as questões europeias, das quais são exemplo a incapacidade revelada na gestão dos fundos estruturais, os problemas na agricultura (ainda existe?), as irregularidades detectadas no processo de adjudicação do famoso Magalhães (às quais o governo não quer responder), etc, etc, que o balanço da sua actuação não pode deixar de ser considerado negativo.
E como em política só há uma forma de castigar os incompetentes, chegou a hora de mostrar o cartão amarelo ao Governo PS para, em Outubro, lhe mostramos o cartão vermelho. Desta eleição só podemos esperar dois resultados possíveis: o PS ganha e tudo vai continuar como antes, com o país a caminhar velozmente para um beco sem saída, ou ganha o PSD e inicia-se um novo ciclo que, esperamos, nos devolva a esperança. E porque o homem é um ser inteligente, que aprende continuamente, estou certo que, regressando ao poder, o PSD não repetirá os erros do passado.
Por: Constantino Rei