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Crónica de uma certa desgraça apalhaçada

Crónica Política

A recente “inauguração”, pelo ministro da Saúde, da nova ala do nosso hospital, é a imagem mais fiel do decadente estado a que Portugal chegou. Procurou dar-se a ideia de que estávamos perante um novo hospital, ou uma espécie de hospital novo, mas basta recordar um pouco da história que nos trouxe até aqui para percebermos a ignorância ou a má-fé de quem assim procedeu.

Desde o primeiro esboço para um novo hospital, concebido pelo médico Martins Queiroz em 1972, ao falatório e pompório, já em 1997, acerca da remodelação do hospital e da elaboração do chamado Plano Diretor, muita esperança se acumulou.

Em 2001, o então ministro Correia de Campos veio à Guarda garantir que as obras iam avançar, o que serviu para Maria do Carmo Borges se candidatar à Câmara. Iniciou-se então o circo eleitoral habitual, em que o tema hospital foi argumento para entreter cidadãos. Entre Maria do Carmo e Ana Manso esgrimiram-se argumentos e demagogia q. b., com os resultados que se viram. Se uma garantia ter o terreno, a outra contrapunha que tinha o projeto. No fim, nem uma coisa, nem outra, apenas uma mão cheia de nada.

De António Guterres até Durão Barroso o circo eternizou-se, com o hospital a ser uma espécie de sonho dourado que servia para caçar votos aos crédulos eleitores de um pobre distrito do interior.

Entre polémicas, fanfarras, e as inevitáveis mudanças de governo, apenas em 2009 o então primeiro-ministro José Sócrates procedeu finalmente ao lançamento da primeira pedra do novo edifício e anunciou a requalificação das antigas instalações e recuperação dos antigos pavilhões do ex-sanatório. Só que esta segunda fase foi colocada em causa, em dezembro de 2013, exatamente pelo atual ministro da Saúde.

Pelo meio, aquando do anúncio da criação da ULS em 2007, ficaram promessas de manutenção da maternidade e de transformação do hospital em «hospital de referência no tratamento da doença oncológica» e da doença cardiovascular. Foram prometidos 20 mil metros quadrados de área útil, 266 camas, internamento em Reumatologia e uma nova unidade de Cuidados Intermédios com 12 camas, destinada a reforçar a articulação com a Rede de Cuidados Continuados.

Ficaram para a história episódios caricatos, como o de Correia de Campos a partir cadeiras, ou o de Patinha Antão, secretário de estado da Saúde de um governo PSD, a vir à Guarda para inaugurar, poucos dias antes das eleições, uma exposição fotográfica, mais ou menos na mesma altura em que um médico era acusado de gastar a eletricidade do hospital por lá ter colocado equipamentos para operar os doentes…

Um primeiro abaixo-assinado de um grupo de médicos, em fevereiro de 2007, ameaçou fazer encerrar a faculdade de medicina de Beira Interior e encostou o governo de José Sócrates às cordas, evitando o encerramento da nossa maternidade. Lindo!

Sócrates não perdoou e aquando do segundo abaixo-assinado, a três semanas das eleições de setembro/2009, desencadeou, com a ajuda dos jagunços locais do PS, a perseguição aos médicos promotores da resistência. Lembram-se do célebre episódio das multas de 33 mil euros por causa do uso de papel timbrado? E da chusma de processos disciplinares que se seguiram?

De lá para cá, já tivemos de tudo. Um ex-presidente da ULS condenado como criminoso, uma ex-presidente acusada pelo Ministério Público de favorecer o marido, e um atual presidente da instituição que, tendo conseguido fazer-se condenar antes de vir para a Guarda, agora faz sobretudo de vedor de Álvaro Amaro, sempre que há festa.

Se o ridículo matasse, morria tanta gente que já nem precisávamos de hospital para nada. Mas isso era se vivêssemos num país de gente normal. Como diriam os romanos, “A barba stolidi discunt tondere novelli” (na barba do tolo aprende o barbeiro novo). Por isso, quem tiver essa possibilidade, que vá de férias. Aqueles que ainda acreditam, que os aturem!

Por: Jorge Noutel

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