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Crítica de Arte ou Talvez Nem Tanto

Ladrar à Caravana

Foi com uma sensação de espanto que vi, ao aproximar-me da UBI, o novíssmo painel de loiça sanitária que reveste o muro de betão em volta do fontanário a inaugurar brevemente na zona da Ribeira da DeGoldra.

Sobre o fontanário ainda não tenho uma opinião formada, pois aguardo os dias de invernia com os ventos a descer velozmente serra abaixo, provocando um alegre rodopiar da água em queda livre, indo aleatóriamente salpicar ou encharcar os transeuntes. Ao menos será a água pré-aquecida antes de ser lançada no vazio? Estarão previstos distribuidores de toalhas para a malta se poder secar? Aguardo pela resposta a estas questões, tal como aguardo pela entrada em funções do fontanário para poder fazer um juízo estético mais ponderado.

Mas o que me encheu mesmo as vistas foi o magnífico painel de bocadinhos de cerâmica colorida. Do lado direito, é de realçar a abordagem geométrico-expressivo-desconstrucionista, com aqueles rectangulosinhos pintados de amarelo até acabar a tinta. Não atingi o significado simbólico oculto na composição, mas também não é suposto que manifestações artísticas tão elevadas estejam assim ao alcance da compreensão e interpretação de vulgares mortais. Basta-nos o privilégio de passar por elas. Não podemos aspirar a mais.

Já na outra extremidade, a esquerda portanto, fiquei maravilhado com a ousadia pictórica e mesmo discursiva do autor, ao plasmar sem subterfúgios os quartos traseiros de uma formosa, alva e sensual ovelhinha, numa celebração alusiva às práticas de iniciação sexual de incontáveis gerações de rijos beirões.

Por fim, o pormenor, nada dispiciendo, de vários mosaicos que se vão soltando do muro de suporte, demonstrando magnifica e interactivamente que o efémero está omnipresente e que nem a mais elevada obra de arte escapa à passagem do tempo. Tudo aquilo é movimento, senhores. Movimento pimba, movimento do mau gosto elevado a escola artística. A pós-modernidade no seu esplendor.

Só não sei, sinceramente, se a Covilhã merece uma obra destas.

Por: Jorge Bacelar

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