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Crimeia

Bilhete Postal

A velocidade dos acontecimentos pode tornar esta crónica obsoleta em meia dúzia de horas. Falar de política nacional deixa de fazer sentido se na Crimeia tudo se decompuser. A presença de uma guerra na Europa entre nações enormes e bélicas produz desde logo milhões de refugiados, além dos muitos mortos e feridos. Não haverá guerra sem consequências dramáticas nos preços do petróleo e do gás.

De facto, o mundo pós 1945 estava dividido em dois blocos e o desenho retocado de 1989 trouxe uma URSS tímida e uma Rússia que se reorganizou e se colocou na expectativa ativa, enquanto se preparava para repor a lógica da sua força. A unidade da Alemanha reconstruiu em parte os impérios de 1914 com os alemães e os russos de regresso, agora sem o belicismo de otomanos e de austro-húngaros. A Rússia não quer revoltas na zona muçulmana (Uzebequistão, Cazaquistão, etc) e não quer a desintegração da influência que lhe resta. Assim, estes dias os telefones entre russos e americanos devem estar a ferver. Se os americanos garantirem a sua não ingerência, estou convicto que a Ucrânia cairá sob a força militar da Rússia. E porque haviam de intervir os americanos? Estamos suspensos de uma realidade infernal. A guerra, de novo à porta das nossas casas. Se houver alguns dias de guerra na Crimeia – não precisa ser longa, bastam umas semanas, todo o cenário económico para Portugal muda e todos os planos se desadequam. Para este cenário não há planos B. Dos alemães não se espera qualquer ingerência na guerra, mas se os refugiados forem aos milhões estão inevitavelmente comprometidos. A Alemanha guerreira existe e há muita memória viva ainda de 1944/45, dos dois lados. Deus nos proteja deste cenário.

Por: Diogo Cabrita

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