As crianças internadas no serviço de Pediatria do Hospital Sousa Martins (HSM) já têm mais motivos para sorrir. Desde o início de Setembro que a unidade dispõe de uma pequena sala de aula para os alunos do primeiro ciclo que, por algum motivo, estão internados.
O projecto, proposto à administração pela professora Paula Grácio Afonso, teve início ao mesmo tempo que o ano lectivo. «A proposta partiu de mim, apesar de, posteriormente, ter tido conhecimento de que já havia essa necessidade, além de que o próprio administrador revelou ser intenção de ter um professor cá», adianta.
Todos os dias, durante a manhã, as crianças do primeiro ciclo internadas naquela ala dirigem-se para a Escolinha da Pediatria, como se de uma escola normal se tratasse, e ali fazem os seus trabalhos escolares. «Muitas vezes as aulas têm início no próprio quarto das crianças e só depois, quando se sentem mais capazes, acabam por ir para a sala de aulas», explica. Contudo, e «felizmente», muitas das crianças estão internadas «por um tempo muito reduzido», refere a professora destacada pelo Ministério da Educação para leccionar no HSM. Mas há sempre casos de excepção. «Houve uma menina que esteve cá mais de 20 dias», pelo que Paula Afonso contactou a sua escola e procurou inteirar-se da sua situação e da matéria que estava a ser leccionada. «Os livros são trazidos por familiares e, eventualmente, se a escola for aqui perto desloco-me até lá para me inteirar da situação do aluno e para buscar a matéria e as fichas que estão a leccionar», refere. Tudo para as crianças não perderem o “fio à meada”, como a professora gosta de dizer. Segundo Paula Afonso, todos aderem facilmente às actividades, apesar de, por vezes, nem sempre ser fácil «devolver-lhes o sorriso».
A docente explica que cada aluno tem as suas necessidades: «Quando estão muito combalidos é quase impossível fazê-los estar aqui a trabalhar», e quando é assim «tento sempre começar com jogos», cativando-os a atingir os objectivos de aprendizagem. «Há sempre formas de os ensinar e mesmo a brincar conseguimos aprender», sublinha. Apesar de ter apenas formação do primeiro ciclo, Paula Afonso diz que esta escola está aberta a todas as crianças que queiram participar nas aulas. É o caso do João, que está internado naquela unidade há mais de duas semanas. Apesar de frequentar o 8º ano, a professora faz questão lhe levar diariamente «uma história ou um filme», até porque «assim o tempo custa menos a passar», lembra. Ideias não faltam para melhorar o projecto, sendo que o principal objectivo é continuar e, quem sabe, alargar as aulas às crianças do segundo ciclo. «É um projecto que existe em muitos hospitais do país. Em Coimbra, por exemplo, há 14 professores destacados para dar aulas às crianças internadas», revela. No futuro, Paula Afonso diz que um dos seus projectos é conseguir que os alunos da pediatria do HSM tenham acesso a computadores e à Internet para poderem entrar em contacto com as respectivas escolas e colegas. «Ao contactar com a escola, poderemos ver que trabalho estão a desenvolver e, a partir daí, darmos-lhe aqui uma certa continuidade para não perderem a motivação de andar na escola», destaca.
Dois meses positivos
Ao fim de quase dois meses de trabalho com os mais pequenos, Paula Afonso faz um balanço positivo da experiência pela qual tem passado e conta que muitas das crianças acabam por ir visitá-la quando voltam à consulta. «Acho que tem sido bastante bom e sinto que as crianças gostam de estar aqui nesta “escola”. Uma coisa engraçada, que já aconteceu duas vezes, foram duas crianças que pediram para ir para a escolinha depois de terem acordado da cirurgia», revela. Após saírem do hospital, Paula Afonso elabora um relatório com todo o trabalho desenvolvido pelas crianças para que possa fazer parte da avaliação escolar lá fora. No total 18 crianças já passaram pelos bancos da escola da Pediatria do HSM.
Tânia Santos