Arquivo

Cresce descontentamento contra fecho da UCI de Cardiologia na Guarda

Desde que a ULS da Guarda anunciou o encerramento da Unidade de Cuidados Intermédios de Cardiologia gerou-se uma onda de descontentamento que resultou numa vigília, na passada quarta-feira, que reuniu dezenas de guardenses.

Foi junto à entrada do Parque da Saúde, na Guarda, que algumas dezenas de populares se concentraram numa vigília contra o encerramento da Unidade de Cuidados Intermédios (UCI) de Cardiologia do Hospital Sousa Martins. O objetivo foi alertar a população para o problema, pois «as pessoas não se podem conformar» com esta decisão, disse Daniela Araújo, uma das dinamizadoras da iniciativa.

Contrariando a justificação da Unidade Local de Saúde (ULS) da Guarda há duas semanas, a operadora de contabilidade garante que o serviço estava «em pleno» funcionamento quando foi encerrado: «Achámos que era uma injustiça dizer que estava a funcionar mal ou parado, o que é mentira», criticou a guardense, para quem a ULS inventou «desculpas» para justificar essa decisão. «Não estamos contra ninguém, mas sim contra o fecho do serviço porque achamos que é necessário», sublinhou a dinamizadora da vigília, alertando que, com o serviço fechado, o atendimento aos doentes da região passará a ser feito em Viseu ou Coimbra. «Tendo um serviço em pleno, com médicos especializados e com camas disponíveis, não se justifica que um doente cardiológico [faça essa deslocação], pois pode morrer na viagem para esse serviço», acrescentou Daniela Araújo, considerando que a falta de profissionais e a redução da carga horária para as 35 horas são «uma desculpa que o Governo e a administração arranjaram» para concretizar o fecho da UCI.

Entre os presentes estava a médica internista Cristina Sequeira, que desafiou o Governo e o ministro da Saúde a «pensarem bem» em medidas para fixar médicos nas especialidades carenciadas no hospital da Guarda – caso da Cardiologia, que está a funcionar com apenas dois médicos. «O serviço tem 50 anos de existência, sempre foi de muita referência em relação a outros hospitais do interior», recordou a médica, que se mostrou preocupada com a situação. «Na função de internista estou a trabalhar na Cardiologia há cerca de três anos e vejo que é um serviço com muito trabalho e doentes que é preciso controlar diariamente para que a mortalidade não suba», exemplificou Cristina Sequeira, para quem era «essencial» a vinda de novos médicos. «Não estou a ver nada que incentive os médicos a ficarem [na Guarda]», lamentou a clínica. «Como utente, esta é uma situação que me assusta porque um dia posso precisar deste serviço», acrescentou a médica.

Utentes descontentes com encerramento da UCI de Cardiologia

A vigília contou também com a presença de pessoas que já foram atendidas na UCI de Cardiologia. Com 63 anos, Manuel Mariano esteve internado cerca de duas semanas e garante que foi «extremamente bem tratado» e tem «ótimas referências» do serviço. «Vejo esta situação com muita apreensão e muita mágoa porque nunca me passou pela cabeça que fosse possível chegarmos a esta situação», lamenta o utente, para quem toda a população servida pelo Sousa Martins «fica em risco» com este fecho.

Também Manuel Jerónimo, de 59 anos, lembrou que quando necessitou dos cuidados daquela unidade foi «bem recebido» e defende a sua continuidade e o reforço de especialistas. Quem percorreu vários quilómetros para participar na vigília foi Isabel Metelo de Seixas, natural da Guarda e a residir no Algarve, que é utente da Cardiologia do Sousa Martins, um serviço no qual «confia», tendo-se mostrado indignada com o fecho da UCI.

Sara Guterres Vigília mobilizou algumas dezenas de pessoas junto à Portaria do Parque da Saúde do Hospital Sousa Martins

Comentários dos nossos leitores
antonio joana acouto.joana@gmail.com
Comentário:
É com imensa tristeza que vejo fechar uma valência de saúde com tanto interesse para mim, e para a população em geral. Mais uma machadada nos resistentes.
 

Sobre o autor

Leave a Reply