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Costa, Sánchez e Tsipras proclamaram o fim da austeridade, Renzi está a tentar

Quatro países, quatros líderes, um contexto, duas abordagens. Quando em 2014 assumiu a chefia do Governo italiano, Matteo Renzi comprometeu-se a enfrentar a ortodoxia financeira da União Europeia. Em 2015 e já eleito primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras proclamou o «fim da austeridade».

Seguiu-se António Costa a apregoar o «voltar a página da austeridade». Por fim, depois das eleições de 20 de dezembro de 2015 e de 26 de junho último, foi o então líder do PSOE, Pedro Sánchez, a anunciar, pese embora os dois piores resultados do partido, o fim das políticas (de austeridade, claro está) de Mariano Rajoy.

À exceção do mais esquerdista e agora aparentemente convertido Tsipras, os restantes provêm da mesma família política – o socialismo democrático ou a social-democracia, como se queira. São originários de países do Sul europeu que, excetuando Espanha, se debatem com escassa autonomia devido a dívidas gigantescas, pública e privada. E assumiram posições governativas – excluindo Sánchez, cujo partido acaba de abrir a porta a um novo Governo de Rajoy – num ambiente pós-crise das dívidas soberanas em que imperam, por determinação de Berlim e Bruxelas, as políticas de contenção e ajustamento orçamental.

O desenlace de Tsipras é conhecido. Obteve um terceiro resgate e um memorando repleto de privatizações, cortes nas pensões e no investimento público: a austeridade deu lugar a austeridade reforçada.

Por cá, o otimista cenário macroeconómico de Mário Centeno, a formalizada a geringonça e subsidiárias reversões fizeram crer num novo amanhã, onde a consolidação daria lugar à expansão. Porém, apresentado o Orçamento do Estado para 2017, verifica-se que nem fim da austeridade, nem fim da obsessão pelo défice. Ao contrário do mote de Jorge Sampaio, afinal também para este Governo não parece haver vida para além do défice. O crescimento mágico deu lugar ao realismo de contexto. Em paralelo ao crescimento anémico e ao contrário de todas as expectativas, Costa prepara-se mesmo para conseguir em 2016 o primeiro défice orçamental inferior a 3% do PIB desde que Portugal entrou no euro.

Há mais. Para o ano Centeno definiu como meta um défice de 1,6% e, música para os ouvidos de Bruxelas, compromete-se com uma redução de 0,6 pontos do saldo estrutural – que desconta os efeitos do ciclo económico – num ajustamento superior ao decréscimo de 0,5 pontos estipulado pelas regras do pacto orçamental. Até Mario Draghi veio assinalar os «progressos notáveis [que] devem ser reconhecidos». Afinal a nova página ainda conta uma história de austeridade.

Já Renzi, com retórica acompanhada de ação política, tentou reformar o país, propondo-se ultrapassar os bloqueios que mantêm a economia transalpina estagnada. Pelo caminho, no dia em que recebeu o apoio de Barack Obama, Renzi enviou para a Comissão Europeia um Orçamento que viola as regras avisando, desde logo, que o mesmo «não vai ser alterado». Com este projeto orçamental expansionista (descida de impostos e aumento de pensões) o primeiro-ministro italiano pretende «dar um sinal aos cidadãos e não aos tecnocratas de Bruxelas». Falta conhecer o epílogo.

Por: David Santiago

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