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Contramão – Olhó sinal!

Eu não queria falar, juro que não. Pensei que passasse, que desistissem, que se enxergassem, que cumprissem, que respeitassem, que não fossem cegos, que temessem a polícia e as chatices e as coimas e os acidentes, que soubessem identificar sinais de trânsito, mas parece que não, assim só me resta gritar – PAREM DE DESCER EM CONTRAMÃO A AVENIDA DO RIO DIZ!!!

Parece incrível mas é verdade, dois meses e meio depois do início das obras de requalificação desta avenida, ainda há condutores que continuam a descer esta artéria em direcção a S. Miguel o que configura uma infracção muito grave, com coima elevada e inibição de conduzir, mas parece que isso não preocupa os infractores.

Foi devidamente noticiado que se iriam iniciar obras, importantes e urgentes, nesta avenida (bem como nas ruas mais antigas do Bairro de S. Domingos) em meados de Setembro e com conclusão prevista para Fevereiro de 2011, o que se saúda, pecando apenas por tardias. Mas mais vale tarde do que nunca. A população de S. Miguel agradece à CMG o facto de se ter lembrado que esta zona da cidade também é de primeira. Faltam a Avenida de S. Miguel e a eternamente adiada Rua do Repouso, mas adiante.

O dono da obra, a CMG, fez questão de sinalizar claramente a obra e de avisar, nos media e “in situ”, da proibição de circulação em sentido descendente a partir da Aldeia de Crianças SOS, tendo colocado, para o efeito, sinalização vertical explicando as obras, proibindo trânsito e dando alternativa a esse itinerário massivamente utilizado. Quem desce a variante à estrada do Rio Diz (feira e hipermercado) encontra, no final, três sinais verticais alertando para a situação. Até posso compreender que nos primeiros dias alguém se possa ter confundido mas, que diabo, um sinal de sentido proibido é SEMPRE um sinal de sentido proibido. Eu sei que podemos andar confundidos com governantes do tipo “nem sim nem não” ou “agora sim e amanhã não”, mas um sinal redondo com traço horizontal branco sobre fundo vermelho, não deveria deixar dúvidas a encartados!

É por isso que os cumpridores se irritam imenso e até fazem apostas, pela manhã ou ao fim da tarde, de que irão encontrar alguém em sentido descendente neste troço em obras. A forma de se vingarem é fazerem questão de não se desviarem um milímetro para o lamaçal, obrigando os transgressores a encolherem-se ou a desviarem-se e a ouvirem umas valentes buzinadelas, mas pouco tem adiantado (há uma excepção de última hora, que se saúda, e que diz respeito aos autocarros urbanos que servem aquela zona).

Senhores agentes, desloquem-se a este excelente “spot” que lhes permitirá cumprirem numa manhã os objectivos mensais impostos pela hierarquia para a emissão de contra-ordenações muito graves. Os senhores podiam e deviam parar mais por ali pois, palavra passa palavra e os abusos de muitos senhores, mas também de muitas senhoras bem-postas, parariam num ápice.

Quem nunca transgrediu que atire a primeira pedra. No entanto transgredir diariamente é que já não se entende (estou a lembrar-me de um Mercedes que sai em contramão de uma casa mesmo à curva, mas há mais casos). Transgredir sem querer é admissível. Reincidir sabendo é abuso.

Mas o que passará então naquela zona? O que levará indivíduos, nomeadamente em hora de ponta, a arriscar a sua integridade física e de outrem, bem como uma valente coima? A resposta poderá passar pelas intermináveis filas que a qualquer hora se iniciam na avenida Cidade de Bejar e continuam pelas de Waterbury e Salamanca até à confluência com a VICEG junto ao Parque do Rio Diz.

Quatro conclusões: As primeiras são sociológicas – O Homem é mesmo um animal de hábitos. Alguns resistem mais à mudança do que outros; o português transgride apenas pela sensação de impunidade ou, no caso, por um grande comodismo ou pressa; As outras são relativas ao tráfego na nossa urbe – A Avenida do Rio Diz reduz muito significativamente o trânsito diário pelas avenidas atrás citadas e é de grande utilidade, pelo que é urgente a sua conclusão; a VICEG ainda não é encarada como uma alternativa a estes dois eixos ligando a alta à baixa da cidade. Pela VIGEG é mais longe, mas é mais rápido e económico – habituem-se.

Por: José Carlos Lopes

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