A Hidrocenel-Energia do Centro, SA, sedeada em Seia, vai encerrar as suas portas. Tudo porque a EDP Produção, “sub-holding” do grupo eléctrico nacional, adoptou um novo modelo organizativo para encarar os desafios do Mercado Ibérico de Electricidade (MIB), que deverá arrancar em Abril deste ano. A notícia já motivou reacções de descontentamento em Seia.
Uma das principais alterações é a fusão, na Companhia Portuguesa de Produção de Electricidade (CPPE), das empresas TER, que geria a central de ciclo combinado do Carregado, EDP Cogeração, Hidrocenel e da HDN, responsáveis pela exploração de centrais mini-hídricas, e da HidrOeM. Outra alteração significativa é a transferência para a CPPE dos trabalhadores das empresas atingidas por esta fusão. Este processo deverá ficar concluído ainda durante o primeiro semestre deste ano. Ligada ao sector da água, electricidade e gás, a Hidrocenel foi criada em Agosto de 1994 por altura da cisão da EDP, empregando 66 trabalhadores que operam 14 instalações de produção hidroeléctrica. Contudo, o encerramento da Hidrocenel vai provocar prejuízos à Câmara Municipal de Seia que deixa de poder contar com uma derrama de cerca de 450 mil euros anuais, montante que passa agora para a Câmara de Lisboa. Em comunicado, Eduardo Brito, edil senense, já manifestou o seu «profundo descontentamento» pelo facto da empresa «poder deixar, a curto prazo, de ter a sua sede em Seia». Neste sentido, o autarca não compreende «como é possível desenvolver o interior e combater a desertificação, retirando a sede de empresas que são fundamentais para o desenvolvimento». Pelo que a autarquia de Seia apela ao Governo para «que use da sua influência junto da EDP para que esta medida não se concretize, o que seria um rude golpe no desenvolvimento do concelho de Seia», completa.
Também a concelhia do Partido Socialista de Seia já deu conta do seu descontentamento face a uma «notícia triste e que afecta fortemente o desenvolvimento do concelho». Para os socialistas de Seia «é muito estranho que o PSD e o Governo, que propagandeiam aos quatro ventos que querem desenvolver o interior do país, executem uma política rigorosamente ao contrário», acusam. O PS não entende ainda «como é possível que tudo isto aconteça sem que os responsáveis distritais e locais do PSD tomem posições públicas duras, de defesa intransigente dos interesses de Seia», contrapondo com a actuação do PS, que, no passado, «quando era Governo, sempre impediu decisões desta natureza». Daí que os socialistas exijam aos dirigentes distritais e locais do PSD que «ponham de lado a política partidária e defendam a sua terra», esperam. Outro partido que já reagiu publicamente à saída da Hidrocenel foi o PCP, através da sua concelhia. «A situação já andava no ar, mas nunca nos passou efectivamente pela cabeça que viesse abranger a Hidrocenel, que tem mais de 90 por cento da produção da energia eléctrica na região Centro», afirmou Mota Veiga, em declarações à “Rádio F”. A saída da empresa do concelho de Seia é ainda entendida como «o começo de um esvaziamento que não tem razão de ser», além de decorrer outra consequência directa: «A autarquia senense vai ficar privada de uma importante receita, uma derrama de 450 mil euros por ano, o que representa 98 por cento do total deste imposto municipal recebido pela Câmara», avisa.