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Consciência de uma parelha de cornos!

Se alguém ousasse fazer uma comparação entre a consciência politica e a tourada à portuguesa, certamente que o escrevia na língua mãe. O momento político presente é deveras tauromáquico! Ora, não sendo eu adepto da «corrida», mas respeitando-a na génese, não me posso resignar a um Estado cada vez mais touro, e de deixar bem claro, não pertencer a essa manada.

Na tourada, o centro das atenções é claramente o «centrão», esses dois cornos paralelos, afiados para os lados, sem esquerda nem direita, porque a arena é redonda e o público confunde facilmente os cardeais. Essa dupla de cornos que se aposta de quando em vez para São Bento, está agora no auge da luta, depois de uma guerrilha encapuzada de mais de um século. O acordo central que a Nação fez entre os dois cornos de osso simétrico, objectiva sempre um mesmo marrar, que sem razão, investe na ignorância.

Comecemos então pelo forcado, de mãos na anca perante o Estado, qual varina despregada, com gosto ele está lá para abraçar seja que corno for. Existe sempre um grupo de amigos que o ajuda na pega, e de mão no rabo termina, deslizando ao som de uma maré de palmas. Estes são os mais corajosos, também os mais inocentes.

Segue-se o bandarilheiro, bailarino astuto, de pinças floridas, quer espetar dois cravos de cada vez, mas que logo murcham no dorso do animal, faz sangue que não mata, é o mais vaidoso, e não quer nada com os dois cornos.

É a vez do toureiro pedante, que com a sua capa ludibria, traz a espada escondida para manter a tradição, só não espeta o touro porque não pode, vermelho em escala de cinza, este pedante, profissional manuseador de bandeira, não perde tourada nem campanha.

O toureiro que acompanha um quatro patas, altivo, desenha o espectáculo, aproxima-se até ao limite, junta-se e descola, para e arranca, move-se com loucura calma, tem todo o tempo do Mundo para manter o espectáculo.

O que representa a manada, conhece bem o touro, ou melhor o Estado, não sabe distinguir os cornos mas sabe estar ali, quer apenas não ser corno de um deles e não perder com a situação.

O indivíduo, público, esse, assina de corneta, sempre com o mesmo tom, gosta de farturas e do Estado gordo, perspectiva-se no cabedal dos outros, não dá um passo em frente sem a manada, e faz, simplesmente, parte desta grande parelha de cornos.

Por: Daniel Gil

Consciência de uma parelha de cornos!

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