O Estabelecimento Prisional da Covilhã tem registado nos últimos tempos um aumento de indivíduos «extremamente jovens e com cursos superiores» presos por crimes relacionados com o álcool. O alerta foi deixado pela directora do Estabelecimento Prisional da Covilhã, Fátima Jerónimo, no colóquio “Os acidentes de trabalho e a viação e a delinquência”, organizado pelo Centro de Alcoólicos Recuperados (CAR) da Cova da Beira, na última sexta-feira. Um painel que contou ainda com a presença da PSP e do director do Centro de Formação Profissional da Covilhã.
«A condução por embriaguez é actualmente o crime que mais jovens atira para as cadeias portuguesas», alertou Fátima Jerónimo, seguindo-se o furto, as injúrias, a falsificação de documentos, a desobediência, incêndios, violação e homicídios. «Numa população de 140 presos, 20 estão detidos por causa do álcool», revelou Fátima Jerónimo, sendo que desses, cinco foram presos por conduzirem com taxas de álcool acima dos 1,2 gramas por litro arriscando-se a uma pena de prisão entre 4 a 6 anos, se forem reincidentes, ou de menos de um ano se forem primários. O número de condutores embriagados é uma realidade que tem vindo a aumentar nos últimos anos, confirmou Leonel Silva, em representação da PSP. Só este ano (o mês de Dezembro não está incluído), a PSP da Covilhã submeteu 255 condutores envolvidos em acidentes de condução ao teste de alcoolémia, sendo «quase certo» que o número final deverá superar os 283 condutores que “sopraram o balão” em 2002. Desses 255, 22 indivíduos apresentaram taxa de alcoolémia.
Uma situação que começa a ser «preocupante numa cidade pequena como a Covilhã», desabafou Fátima Jerónimo, adiantando que o número de detidos do concelho covilhanense está «a crescer em flecha». «Tenho a certeza que a tendência é para aumentar», teme a directora, alegando que na prisão «deixou de entrar o toxicodependente para passar a entrar outro tipo de consumidor: o alcoólico».
Jovens são o alvo nos dias de hoje
As camadas mais jovens são o alvo da preocupação dos intervenientes. É que hoje em dia, os jovens recorrem ao álcool para se «diferenciarem» dos outros. «Quanto mais caro se bebe, mais importância e poder económico se tem. E os jovens já se aperceberam disso», sublinhou Fátima Jerónimo, para quem tudo passa por «uma boa educação». «Não é a reprimir que os vamos educar», avisa. Por sua vez, José Amarelo, presidente do CAR Cova da Beira, disse estar «bastante assustado» pelo facto do alcoolismo estar «enraizado» nos jovens. «Tenta-se a motivação com verdadeiras “bombas”», acusa José Amarelo, referindo-se aos tradicionais “shots” que cativam milhares de jovens. «Dentro de dois ou três anos, teremos jovens com graves problemas de alcoolismo» por causa das misturas explosivas concentradas em copos “minis”. Daí que o CAR da Cova da Beira tenha já programado para breve acções de prevenção nas escolas e na comunidade em geral, para além de prever abrir em 2004 os pólos de Belmonte e Fundão. «Quantos mais pólos e mais pessoas houver a trabalhar neste projecto, mais resultados positivos teremos», sublinhou José Amarelo. O tema “O alcoolismo, a exclusão social e a pobreza” também esteve em cima da mesa, num outro painel que se revelou menos participativo.