Assunto de novo na ordem do dia.
Percebi na entrevista de Carlos Pinto à Rádio Altitude que está determinado a ser o motor da iniciativa, mesmo com as opiniões adversas do presidente da Câmara da Guarda e da Assembleia Municipal de Celorico da Beira.
Afirmou cinco verdades, a saber:
1- A Lei que enquadra as comunidades urbanas mantém-se em vigor, o que quer dizer que não foi revogada pelo actual Governo.
2- A simples mudança de protagonistas (leia-se eleições municipais), nada alterou. Quem aderiu, foram “municípios não foram pessoas”. Com estas (as que possam estar em desacordo) vai dialogar-se e chegar a conclusões.
3- A Câmara da Guarda obrigou-se por escritura pública aceitando, portanto, direitos que daí lhe advêm e deveres que a obrigam. A posição institucional mantém-se, apesar de o presidente Valente ter dito “para mim o modelo não faz sentido”. Esta posição pública pessoal, já repetida, não teve consequências institucionais. Não se fez aprovar nenhuma deliberação quer no executivo quer na Assembleia Municipal, em sentido contrário ao assumido num acto público como a escritura de constituição da comunidade. Esta devidamente suportada por uma decisão da Assembleia Municipal.
4- A Comurbeiras prosseguirá o seu caminho com todos ou até com mais municípios, mas se alguém quiser sair, faz mal, mas que saia, não ameace.
5- Por haver alguns portugueses que afirmam não gostar de ver Portugal na União Europeia, não impede, até reforça, as razões de se ter aderido e de se continuar a partilhar princípios maioritariamente suportados pelo povo português.
Explicou também as razões de base que suportam a sua defesa e empenhamento na forma de organização territorial espelhada na Comurbeiras.
Assim:
1- A realidade, hoje, é em termos de escala muito mais exigente e acima da do concelho. A “Europa das Regiões” é uma realidade. Pena é que não tivesse sido possível agregar mais municípios.
2- A contratualização com o Governo e, especialmente, com os programas do próximo Quadro Comunitário de apoio vai, obrigatoriamente, fazer-se a partir de formas de organização regional, sendo estas as únicas entidades a poderem beneficiar dos chamados envelopes financeiros.
3- O centralismo em Portugal sempre jogou no individualismo. Compete-nos ser inteligentes e contrariar esta forma de estar. O contraste está em Espanha, França ou Itália.
4- Existem áreas como a exploração de recursos hídricos, saúde e infra-estruturas que a falta de visão de conjunto poderiam levar a brincar-se com coisas sérias (ex. dois aeroportos ou duas plataformas logísticas na região da Beira Interior)
5- Reafirma disponibilidade para com todos defender projectos e causas a favor da região.
Porque partilho grande parte destes sentimentos e análises, e porque sei que é fundamental conseguirmos lideranças, visões, projectos e causas que envolvam o interior, se possível do Douro ao Tejo, manifesto aqui a minha solidariedade para com quem assim pensa e a preocupação crescente pela pequenez que revelam aqueles que continuam a preferir sozinhos, usar as suas influências, tentando resolver os problemas, e dar resposta aos anseios que se lhe vão colocando.
Será que uma vez mais a fidelização partidária (Guarda e Celorico são os contestatários) falará mais alto que os interesses locais e principalmente regionais? Quero crer que não, e um pouco de realismo vai permitir concretizar aspirações de desenvolvimento que todos ansiamos.
Se assim não fosse, teríamos na Guarda uma PLIE (logística) e uma ALE (área de localização empresarial) com 90 hectares ao todo, ainda em fase de parcial infraestruturação, e na Covilhã no seu segundo parque industrial – Parkurbis – 400 hectares praticamente todos ocupados.
Se assim não fosse, teríamos dia 30 de Abril a inauguração da Faculdade de Medicina, e, por cá, talvez mais uma reunião entre os responsáveis da ARS e o projectista da remodelação do Hospital Sousa Martins para acordar, finalmente, como é possível pagar a dívida anterior e começar a elaborar o projecto de remodelação.
Se assim não fosse, teríamos a semana da “Inovação e Tecnologia”onde até participaram robot’s de jovens guardenses e, por cá, uma reunião com a administração da CGD onde se percebia que não sabemos o que é logística e que, apesar de o tema proposto ser este e energias Eólicas, falámos muito de Turismo.
Se assim não fosse, teríamos um Carlos Pinto descontente com o “timing” e valor do investimento consignado à electrificação da linha da Beira Baixa, reafirmando que o ganho de 15 minutos na viajem é muito pouco, até porque é preciso rentabilizar o TGV com linhas capilares que abasteçam de pessoas as grandes estações da alta velocidade, e por cá, celebraríamos com pompa e circunstancia o inicio dos trabalhos e até se ouve o compromisso de estudar uma hipóteses de acesso do comboio à PLIE.
Se assim não fosse, teríamos uma cidade com um património na rede de águas e esgotos avaliado em vinte milhões de contos (sim, contos) e uma outra, que até é a capital de distrito, que alienou por valores irrisórios os seus investimentos na área ao cedê-los às Águas do Zêzere e Côa.
Devemos ter consciência das nossas capacidades, pensar e exigir uma descentralização imediata no quadro da legislação em vigor, porque esperar pela próxima legislatura, por uma eventual aprovação em referendo de uma regionalização, é adiarmos mais uma vez o nosso futuro colectivo.
A nossa verdadeira emancipação só será viável se realidades como a Comurbeiras se implantarem e crescerem.
Sejamos exigentes!!!
Por: J. L. Crespo de Carvalho