Como Falar dos Livros que Não Lemos é um livro de Pierre Bayard (talvez um familiar distante do mítico criador dos rebuçados peitorais) de onde bebi a metodologia crítica utilizada na produção do texto de hoje. Para reforçar a componente da ausência de leitura, comecei por nem sequer ler o próprio livro de Bayard, que me parece um texto sólido e arguto. Remeto assim o leitor para várias páginas deste livro que não li.
Anda por aí à solta um livro (e um filme com o mesmo nome) com um sucesso tremendo. O título é O Segredo e parece que a ideia do livro é revelar um segredo qualquer. Ora isto revela, além do próprio segredo, algumas coisas mais a ter em conta.
Primeiro, que a autora é pessoa a quem não se pode contar nada. Imagine-se o leitor amigo da senhora Byrnes. “Ó Rhonda, filha, sabes lá tu o que me aconteceu.” A Rhonda vai ficar a saber e passados uns meses o mundo inteiro também. Neste mundo já não há segredos que resistam, porque quem não compra livros assiste à Tertúlia Cor-de-Rosa.
Segundo, a autora descobriu que é mais rentável contar um segredo através de um livro do que contar às amigas no ginásio para irem espalhando pela cidade. É como cobrar direitos de autor por espalhar boatos.
Terceiro, este segredo não é divulgado pelos conhecedores da mesma forma que os outros. Quem conhece a verdade escondida naquelas páginas resiste a desvendá-la. Dizem “Compra e descobre!”. Já os segredos vulgares, mesmo que não se queiram saber (embora normalmente se esteja interessado), são divulgados com mais rapidez que os erros dos exames do secundário. Ninguém diz “Vai ver e descobre”.
Quarto, ao dar conferências pelo mundo todo sobre qual é o segredo, o que quer dizer o segredo, a quem se destina o segredo, quem conhece o segredo e como se utiliza o segredo, começa a parecer-me que o título do livro já devia ter sido alterado para O Conhecido ou mesmo para O Que Já Não Se Aguenta Mais Ouvir Falar Disso.
Devo acrescentar que não comprei, não li e não perguntei nada acerca do livro. Mas não estou preocupado. Nas férias tenho tempo de ver a Tertúlia.
Outro livro que também não vou ler – e nem sequer vou gostar – é o novo romance de Margarida Rebelo Pinto. Tomei conhecimento da sua existência pelo 24 Horas. Curiosamente, na imprensa não vi nenhuma referência ao assunto. Cheguei a pensar que seria uma suposta revelação da vida amorosa da escritora. Mas depois percebi que, dado o desinteresse do periódico em causa pela literatura, o “novo romance” talvez fosse um livro. A ser assim, o livro de Rebelo Pinto tem duas características inéditas: um título que nunca usou nos livros anteriores e ser um romance.
Desta forma, foi a minha sagacidade – e as newsletters da Byblos – que me fizeram saber que está na rua um novo livro da escritora. Como está muito calor, eu costumo ficar por casa e não corro grandes riscos de o encontrar. A não ser que esbarre com ele nas toalhas das meninas que frequentam a mesma piscina.
Por: Nuno Amaral Jerónimo