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Comércio local da Guarda ameaçado pelas grandes superfícies

Com a abertura do Continente Bom Dia, a Guarda passou a ter oito supermercados, um para 4.982 habitantes, o que poderá comprometer os pequenos negócios do comércio tradicional e das lojas de bairro.

O INTERIOR fez uma viagem pela cidade e tentou apurar junto de alguns comerciantes se já sentem o impacto da abertura de mais uma grande superfície na Guarda. «Deviam abrir uma fábrica e não supermercados, disso já cá temos muito», considera José Marques, proprietário da loja J.M. no bairro das Lameirinhas há 14 anos.

O comerciante garante que hoje são «três ou quatro as pessoas que vêm diariamente buscar o pão» e pouco mais. «Acho que é um exagero. Para as pessoas que há na Guarda já sobravam os supermercados que havia», reforçou o lojista. A opinião é partilhada por outros comerciantes. «Se a população aumentasse não se notava, mas como não é isso que se verifica há sempre uma quebra no negócio», sustenta Dalmar Ferreira, proprietário do Talho Ferreira, no Bairro do Pinheiro. Não podendo competir com as grandes superfícies no preço, o empresário acredita que só resta marcar a diferença pela qualidade. «Eu vejo os meus novilhos desde o nascimento até ao produto final», sublinha Dalmar Ferreira, para quem «não é possível ter uma qualidade boa a um preço tão baixo» como o praticado nos hipermercados.

Dono de um estabelecimento de produtos regionais na Guarda-Gare, Jorge Gonçalves ainda não sentiu decréscimo na procura e diz que a proximidade da sua loja às grandes superfícies «pode até ser benéfico, mas isso só o tempo o dirá». Ainda assim, o proprietário da Choupana do Pastor defende que «não havia necessidade» de abrir mais um hipermercado: «Não há população para tantos», constata, acrescentando que são os pequenos comerciantes «que têm cá os filhos, que vão fazer cá casas e que, possivelmente, vão investir aqui». Mas uma nova grande cadeia não é sinal de criação de postos de trabalho? «Pode criar mais postos de trabalho ali, mas vai tirar noutros sítios», responde Jorge Gonçalves, nomeadamente nos pequenos negócios cuja viabilidade fica «mais ameaçada» e poderão ter que fechar.

Na sua opinião, não é só o comércio local que pode vir a sofrer sequelas, pois «já são muitas superfícies deste tipo na Guarda e acaba por ser uma guerra entre elas». Quem concorda é Maria do Céu, proprietária do estabelecimento Frutas Lourenço, e o filho, Sérgio Lourenço, para quem as grandes superfícies «não nos prejudicam a nós, mas sim umas às outras». «Quem tem que comprar no comércio local vem independentemente de abrir mais um hipermercado», reforça Sérgio Lourenço, segundo o qual o «atendimento e a frescura dos produtos» é a marca que os distingue. A poucos metros, no centro histórico, as pessoas escasseiam nos estabelecimentos e Maria Almeida, da loja Ferrinho, é parca nas palavras para dizer apenas que «quanto mais estabelecimentos desses há pior é para o comércio local».

Mas há casos e casos. Há quem garanta que, por agora, ainda não sentiu o impacto da abertura do Continente Bom Dia. No Mini Mercado Novo, na zona da Estação, «continuamos a ter a mesma procura», garante Maria Almeida, responsável pela loja. E o que leva as pessoas a optar pelo comércio tradicional? «Temos produtos que as grandes superfícies não têm», responde a lojista, apontando para a fruta fresca. Ali há também especiarias, como o colorau, o pimentão picante ou os cominhos, vendidas avulso. «Isso marca a diferença. Podem não levar outras coisas, mas levam essas», assegura Maria Almeida, que diz não ter receio dos hipermercados porque «temos que trabalhar o dia-a-dia, o que vier virá e depois logo se vê como corre».

Sara Guterres Ainda há quem não troque o comércio tradicional pelas grandes cadeias alimentares

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