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Comerciantes contra fecho ao trânsito da “Rua Direita” na Covilhã

Residentes contestam a não atribuição de cartões de morador para livre circulação naquela artéria comercial da cidade

«Tivemos quebras nas vendas de cerca de 50 por cento», queixa-se um comerciante da Rua Comendador Campos Melo, que deseja manter o anonimato, apontando como causa desta situação as obras e o consequente fecho ao trânsito da “Rua Direita”, na Covilhã. «Quem não vê, esquece», acrescenta Mário Monteiro, dono da perfumaria “Mário”, entre muitas outras queixas de comerciantes e moradores daquela artéria que já deram origem a um abaixo-assinado enviado à Câmara da Covilhã.

O projecto de reabilitação da rua, a que “O Interior” teve acesso, não previa o seu fecho ao tráfego, tanto é que as passadeiras e os pinocos lá estão assinalados. «Apenas o estacionamento seria proibido, não a circulação», adianta Mário Monteiro, acrescentando que esta medida «nunca foi alguma vez referida nas reuniões que tivemos com a autarquia». Mas foi depois da inauguração da “nova cara” da rua, no passado dia 2 de Agosto, que as esperanças da passagem de veículos caíram por terra. Os resultados desta decisão começaram a notar-se com os lamentos dos clientes, confessa o dono da perfumaria: «Dizem que é um castigo chegarem ao centro da cidade por causa dos acessos e por isso deixam de cá vir», conta. Com as vendas a baixar, os comerciantes insurgiram-se e decidiram subscrever abaixo-assinado, que juntou mais de meia centena de assinaturas, enviado ao presidente do município, Carlos Pinto, pedindo a livre circulação de viaturas na rua, conhecida popularmente por “Direita”. A resposta não se fez esperar e reiterou que a autarquia «não tenciona, de imediato, proceder à reabertura da rua ao tráfego», pois tal acção seria uma «inversão da qualidade ambiental desta área», escreveu o autarca numa carta a que “O Interior” teve acesso.

Moradores exigem livre acesso

Perante esta situação, os comerciantes esperam marcar uma reunião com Pinto e chegar a um acordo que satisfaça ambas as partes. Tencionam também explicar os motivos que os levam a desejar o tráfego, visto ser referido no mesmo documento «não se perceber como é que o trânsito de viaturas aumenta a procura e as vendas». Mas Aurélia Costa não tem dúvidas: «São as montras que vendem, se as pessoas não as vêem não podem comprar», garante esta funcionária de uma loja de roupa. Proibir os estacionamentos ou até tornar esta via em área pedonal no Verão são algumas das alternativas que os comerciantes lançam, pois «as pessoas habituam-se a não passar aqui e o negócio ressente-se», aponta a empregada. Apesar da maioria dos comerciantes concordarem que a rua «está bonita», alertam, no entanto, para a impossível comparação da «Covilhã com outras cidades que sustentam uma área comercial pedonal», até porque «só tem mais uma via alternativa para o centro», critica Mário Monteiro. A contestação toma dimensões ainda maiores devido à ausência de uma explicação para esta medida por parte do autarca. «Qual o motivo para não abrirem a rua ao trânsito? A grande maioria dos comerciantes quer o tráfego nesta área porque traz mais clientes. Não entendo esta atitude do presidente», questiona Pedro Costa, empregado de uma loja que também se ressente de uma queda das vendas.

Mas o fecho da “Rua Direita” ao trânsito afecta também os residentes. Para Fátima Fonseca, «a atitude de Carlos Pinto é prepotente e está errada», considera, recordando que o projecto de reabilitação desta artéria implicava um cartão de morador, reconhecido pela Câmara, para facilitar a circulação e estacionamentos na rua. Só que esta garantia foi negada após enviado o requerimento necessário à autarquia. «Ainda compreendo que não pudesse estacionar, mas, afinal, nem aos cartões para circular temos direito», queixa-se a residente. Segundo Fátima Fonseca, os únicos prejudicados com esta situação são os moradores, porque para o comércio «até pode ser bom, apesar da cidade não ter condições, nem dimensão, para ter uma rua comercial». Como se não bastasse, o seu carro é a gás e não pode, por lei, estacioná-lo no silo. «Deram-nos a esperança que com um requerimento poderíamos estacionar na rua detrás, mas também foi indeferido porque vivemos na Comendador Campos Melo», acrescenta, indignada. E uma vez que a maioria dos estacionamentos desta zona são controlados por parquímetros, os residentes vêem-se obrigados a deslocarem-se ao Campo das Feiras para aí deixarem a viatura. Contudo, há outros problemas latentes e que motivam ainda mais críticas por parte dos moradores: «Nem um caixote do lixo há na rua maravilhosa», ironiza Amélia Fonseca.

Liliana Machadinha

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