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Com um brilhozinho nos olhos

Sérgio Godinho actua no TMG a propósito do seu novo álbum, “Ligação Directa”

Um dos mais duradouros cantautores portugueses actua, sábado à noite, no grande auditório do Teatro Municipal da Guarda (TMG). Passados 33 anos de carreira, Sérgio Godinho ainda tem muita coisa para dizer e cantar, como comprova o seu último trabalho. Também a crítica e o público continuam a gostar de o ouvir e não lhe regateiam elogios. A revista especializada “Blitz” elegeu mesmo “Ligação Directa” como o melhor álbum português de 2006, considerando-o um «monumento à elegância e à arte de bem contar uma história». Está tudo dito, falta ouvi-lo, porque o “single” “Às vezes o Amor” é só um cheirinho do que nos espera.

O novo disco de originais de Sérgio Godinho foi editado em Outubro passado, seis anos depois de “Lupa” e três anos após o grande êxito de “O Irmão de Meio”, primeiro lugar do top de vendas em 2003 e o galardão de platina. Este trabalho é composto por 10 temas, todos da sua autoria, com excepção dos contributos em duas músicas de Hélder Gonçalves (Clã) e Nuno Rafael, também responsável pela produção e direcção musical de “Ligação Directa”. Participaram ainda Manuela Azevedo, Hélder Gonçalves, Joana Manuel, Tomás Pimentel, Nuno Cunha, Jorge Ribeiro e Jorge Teixeira como músicos convidados. O concerto de sábado à noite terá como base o repertório deste último trabalho, mais algumas das maiores referências da vastíssima obra deste autor, compositor e intérprete. É que Sérgio Godinho já conta 33 de carreira e 23 discos, dos quais 16 de originais. Uma longa carreira que deu origem a “Retrovisor”, uma biografia escrita por Nuno Galopim, jornalista e editor do suplemento “6ª” do “Diário de Notícias”. O livro, editado pela Assírio e Alvim, é apresentado amanhã à noite no café-concerto do TMG, numa sessão com o autor da biografia e do próprio retratado.

Nascido em 1945 no Porto, Sérgio Godinho é um dos grandes nomes da música portuguesa. Além de autor, compositor e cantor é, um pouco à imagem do personagem da sua música “O Homem dos 7 Instrumentos”, artisticamente multi-facetado, sendo actor com diversas participações em filmes, séries televisivas e peças teatrais, dramaturgo, com assinatura de algumas peças de teatro e ainda realizador, entre outras actividades. Saiu de Portugal aos 20 anos por causa da guerra colonial, permanecendo lá fora nove anos. Em Paris, integrou o elenco do musical “Hair” e esboçou as suas primeiras músicas, tomando contacto com outros músicos portugueses, como José Mário Branco, Zeca Afonso e Luís Cília. Passou ainda por Amsterdão, Brasil e Vancouver. Em 1971 colaborou no primeiro álbum a solo de José Mário Branco, “Mudam-se os tempos mudam-se as vontades”, e concretizou a sua estreia discográfica ao gravar, em solo francês, o LP “Os Sobreviventes”. Gravou ainda no exílio o álbum “Pré-histórias” (1972).

Ainda que constantemente censurados, estes álbuns conseguiram alcançar popularidade entre o público português no ano seguinte, tendo inclusivamente a imprensa premiado Sérgio Godinho como “Autor do ano” e “Os Sobreviventes” como “Disco do ano”. O 25 de Abril surpreendeu-o em Vancouver (Canada). De regresso a Portugal, editou “À queima-roupa” (1974) com estrondoso sucesso, actuando pelo país em manifestações populares. Desde então a sua carreira não mais parou, sendo autor de algumas das canções mais aclamadas da história da música portuguesa, como “É terça-feira” ou “Com um brilhozinho nos olhos”.

Luis Martins

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