Agora que chegou o Outono, posso confidenciar ao leitor que este Verão deixa algumas memórias que resistirão com certeza à passagem do tempo. A mais marcante talvez seja o fantástico local de repouso que frequentei. Depois de algumas visitas curtas, deixei-me convencer pela temperatura fresca e pelo óptimo atendimento e acedi ao convite de pernoitar, aproveitando das janelas amplas com vista para um belíssimo jardim e do muito simpático e competente serviço de quartos. A única nota negativa atribuo-a à insistência do pessoal em espetar-me agulhas em pontos variados dos braços e das mãos. De resto, nada a apontar. À hora de jantar, por exemplo, fui levado – na cama – para uma sala com o que me pareceu ser um enorme candelabro ou centenas de globos de luzes. Fiquei sem perceber se estava na sala de jantar ou na pista de dança mas sei que se preparava uma festa temática, porque todas as pessoas usavam máscaras, mesmo não estando no Carnaval. Infelizmente adormeci antes de saber onde e ao que ia.
Acordei passadas umas horas, já de volta ao quarto, com uma garrafa de líquido transparente ligada à mão direita. Apesar de – pelos vistos – ter desmaiado ou apanhado uma piela na sala de convívio, o pessoal foi suficientemente simpático para me levar de volta ao quarto vestido com uma espécie de robe azul. Ou isso, ou estive numa sessão de karaté que me deixou amnésico. Mas esta hipótese seria um pouco bizarra se tiver em consideração que as dores já as tinha antes de ali ir passar a noite.
Apesar da qualidade da estadia, foi muito curta. Terminou quando um dos funcionários, a quem todos tratavam por “o Doutor”, me disse que podia abandonar o edifício. Infelizmente, estava a dar um jogo de futebol na televisão e não pude ficar para ver a segunda parte.
Por: Nuno Amaral Jerónimo