A rápida agonia para a qual está a ser arrastado o Hospital de Sousa Martins, não se compadece com passagens de ano. De facto, os gravíssimos problemas com que nos debatemos desde há já bastante tempo mantêm-se, com tendência para agravamento, seja qual for a data que ponhamos no calendário.
Existe claramente um clima de preocupação entre muitos dos profissionais do hospital, receosos não apenas da descarada desvalorização da instituição face aos seus vizinhos da Covilhã, Castelo Branco ou Viseu, mas sobretudo em relação à indiferença ou cumplicidade de quem manda, seja o conselho de administração, a Dra. Ana Manso ou o próprio governo.
Se as campanhas de marketing levadas a cabo por alguns dos nossos vizinhos só podem ser encaradas como artefactos politiqueiros, já a passividade, o silêncio e o autismo das gentes de cá, deixam no ar a interrogação: qual o futuro que está a ser preparado para o hospital da Guarda? Já agora, uma segunda pergunta: qual o papel deste conselho de administração nesse futuro? Cúmplice ou o último a saber?
O balanço do ano que passou corresponde, inevitavelmente, à enumeração dos problemas que vamos ter que enfrentar em 2004. À crise da pediatria vamos continuar a ter que juntar a da unidade de cuidados intensivos e a do serviço de radiologia (uma das tais “excelências” anunciadas pelo presidente da ARS); vamos ver o Euro 2004 passar ao lado, enriquecendo de material, pessoal e prestígio os nossos rivais da Covilhã e Castelo Branco; vamos continuar a assistir à patética gritaria em volta da localização do “novo hospital” no qual há cada vez menos gente a acreditar; vamos continuar a ser confrontados com a incompetência, cinismo e boçalidade políticas destas pessoas do conselho de administração e, sobretudo, vamos continuar cada vez mais preocupados com o desinvestimento neste hospital e nesta terra. Maus agoiros.
Já faz agora algum tempo que um grupo alargado de médicos dirigiu (pela 3ª. vez em 6 meses) um pedido ao conselho de administração para que aceitasse reunir com todo o corpo clínico, no sentido de tentar esclarecer muitas destas e doutras questões. O silêncio tem sido a resposta, juntamente com umas reuniões parcelares com meia dúzia de “sábios”, falsamente apontados como nossos representantes. A realidade é mais simples e mais dura: um conselho de administração não eleito, eufórico e pouco competente, dificilmente quererá enfrentar quem tem mil perguntas para lhe colocar, mil questões para pôr e mil críticas para fazer. Um conselho de administração deste calibre não quererá reunir com quem sabe que não deixará de lhe pedir, encarecidamente, que se demita, que abandone o lugar, por manifesta falta de jeito para a coisa.
Se a questão é política, então os políticos que actuem, que se mexam em defesa de uma terra que não merece aquilo que lhe estão a tentar fazer.
Por: António Matos Godinho