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Coisas…

Os médicos e enfermeiros a prestar serviço na VMER andavam de candeias às avessas com o director clínico do hospital. Vai daí, decidiram escrever uma carta à superiora hierárquica de Coimbra, queixando-se do desleixo e abandono a que tinha sido votado o projecto aqui na terra. Solicitavam, entre outras coisas, a substituição urgente do responsável local e a presença da senhora numa reunião a realizar na Guarda. Como a subscrição da carta era colectiva, acharam por bem facultar o documento a todos os profissionais que lá prestam serviço, deixando-o descuidadamente na central onde se processa a rendição do pessoal.

O director clínico, homem avisado e atento, pôs pés ao caminho e, chegado à central, ao ver por ali a carta, disponível e indefesa, chamou-lhe um figo: meteu-a no bolso e levou-a com ele, passando por cima das questões de pormenor como o facto de não lhe ser dirigida. A notícia voou como um pombo e, passado pouco tempo, o desvio do documento era motivo de risada e galhofa por todo o hospital, com excepção, naturalmente, daqueles que o haviam já subscrito e que não acharam grande piada à façanha. Algumas horas mais tarde, veio a novidade da devolução da carta acompanhada da convocatória de uma reunião urgente, por parte do autor da devassa, com uma ordem de trabalhos onde se previa a substituição do coordenador, tal como era pedido na carta.

Até aqui as coisas ainda tinham a sua piada, se descontarmos a parte sisuda da questão, ou seja, o significado ético, moral e legal do desvio de correspondência por um alto(?) responsável(?) de uma instituição pública.

Passados alguns dias, a Altitude deu a notícia e o director clínico não perdeu mais esta oportunidade dourada de aparecer e dizer de sua justiça. E é aqui que a coisa se começa então a tornar preocupantemente hilariante. Disse mais ou menos isto: “Não vejo nada de errado em devassar correspondência alheia. Eu é que sou o responsável e é tudo a bem da VMER. A propósito, convoquei uma reunião para solucionar todos os problemas e correr com o tal coordenador.” Se não foi isto, foi mais ou menos isto.

Vem a reunião e o tal responsável entra mudo e sai afónico. É a senhora directora do hospital que faz as despesas da conversa: fala e gesticula, promete, altera, substitui, anuncia aumentos. Vem todo o mundo feliz, renovado e remodelado. O tal responsável safa-se de mais uma.

Do pequeno pormenor da carta… nem uma palavra.

Por: António Matos Godinho

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