Hoje vou falar de política.
Decidiu o PPD local convocar uma conferência de imprensa para dar a conhecer os seus pontos de vista relativamente à (falta de) qualidade da água que jorrava da rede pública. Aproveitou a oportunidade para denunciar a relação directa entre o consumo dessa água e a ocorrência de uma série de casos de perturbações gastrintestinais entre a população.
Para o efeito, o partido escolheu duas reconhecidas autoridades na matéria: o Dr. Rui Quinaz, por coincidência presidente da concelhia e o Dr. José Cunha, por acaso vice presidente da mesma.
O sr. presidente, na qualidade de porta-voz do senso comum, não teve dúvidas em encontrar uma relação óbvia e directa entre a qualidade da água e os referidos casos de diarreia. Dispensando todos os conceitos de saúde pública, epidemiologia, diagnóstico, etiologia e de mais uma série de palavrões de que nem deve saber o significado, foi peremptório em responsabilizar a Câmara pelo cagar líquido de uma série de infelizes, tudo em nome… do senso comum.
Ao lado, seguríssimo como é seu timbre, o vice-presidente, por acaso médico mas não de caganeiras, director clínico do hospital onde as ditas ocorreram e mestre em qualquer coisa mas não em água, apoiava o camarada reforçando as críticas à malvada da Câmara Municipal. Não pareceu muito preocupado com o facto de, dias antes, com outra roupagem, se ter recusado a prestar declarações à mesma comunicação social que agora tinha diante dos seus olhos.
Mas não há peça jornalística que se preze que não ouça todas as partes e, dessa forma, tivemos também oportunidade de ouvir as declarações da Dra. Maria do Carmo Borges e do presidente da companhia das águas. Baseados em muito mais do que no senso comum ou no incomum, lá nos foram dizendo que possuíam resultados de análises à água que provavam a impossibilidade de existência de relação entre o seu consumo e as diarreias. Aproveitaram pelo caminho para, em tom de indignado desabafo, presentearem as doutas figuras laranjas com mimos como “irresponsáveis”, “alarmistas” e “levianos”. A estes adjectivos teria de juntar-se o de “falaciosos políticos” a ser verdade o que constou mais tarde: o resultado das ditas análises (com um teor bacteriano dentro dos valores normais e isento de microorgamismos patogénicos) seria já do conhecimento de pelo menos um dos presentes na conferência de imprensa. Mas quanto a esta informação, apenas o próprio a poderá confirmar.
Se no caso concreto do presidente da concelhia encontramos a explicação para este tipo de atitudes nas palavras da própria presidente da Câmara – pau-mandado de vozes mais esganiçadas – no caso do vice-presidente, médico e director clínico do hospital, temos de esgravatar mais fundo para tentar compreender esta sede de protagonismo. Não nos podemos esquecer de que há uns dois ou três anos, este especialista em doenças dos pulmões, deu a cara para a televisão relacionando a existência de minas de urânio a céu aberto com uma alta prevalência de cancro… digestivo. Levou com um processo, na altura e imaginem quem o safou da “fria”!
Não admira agora que venha dissertar sobre águas e solturas, mas se levar com outro processo, imaginem quem não o vai libertar do sufoco.
Há gente que não aprende.
Por: António Matos Godinho