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Coisas…

Apesar de esperado, o anúncio por parte de um qualquer responsável do grupo de trabalho encarregado de fechar maternidades por esse país fora, deixou o hospital de Sousa Martins em estado de choque. Não tanto pelo inesperado da coisa mas sobretudo pela falsidade e demagogia dos argumentos apresentados.

Não é aceitável que num estado que se pretende democrático, sejam tomadas decisões totalmente à revelia do povo, baseadas em inconfessáveis intenções e argumentos falaciosos.

A desolação que se apoderou de todos aqueles que se interessam pela questão, relaciona-se sobretudo com a falsidade dos argumentos apresentados pelo dito grupo de trabalho. De facto, se a intenção de encerrar a maternidade da Guarda assenta em motivações de natureza política que pretendem justificar a existência de uma universidade na Covilhã, então o mínimo que se podia exigir a estes senhores era que o assumissem e nos poupassem a este pobre espectáculo de demagogia e falsidade.

Vamos a factos concretos: entre as muitas maternidades a encerrar, encontram-se algumas que realizam cerca de 200 partos por ano; é a esta dimensão que estes senhores pretendem reduzir-nos ao ignorarem que na Guarda a média de partos dos últimos anos ronda os 1000; que se pratica uma obstetrícia com algum nível de desempenho com profissionais de várias especialidades; que se garante um atendimento 24 horas por dia. E é aqui que a porca torce o rabo ao constatarmos que o hospital que vai beneficiar deste encerramento não cumpre nenhum destes critérios.

Se o encerramento de um serviço como o da maternidade no hospital da Guarda já é por si só uma imoralidade, pior nos sentimos se pensarmos que este encerramento vai desencadear um efeito dominó do qual resultará o fim ou a desvalorização de outras valências e serviços. Pensemos: de que nos serve ter a funcionar uma unidade de cuidados neonatais se os recém-nascidos vão desaparecer da Guarda? Pensemos ainda: como pode a Covilhã vir a albergar uma maternidade preparada para efectuar 2000 partos por ano sem uma unidade dessa natureza? Resposta: fecha-se a unidade da Guarda e abre-se uma nova na Covilhã. Mas as questões não se ficam por aqui. Pergunta-se: com que profissionais vai a Covilhã conseguir manter a sua nova maternidade a funcionar, se nem para os poucos partos que agora tem, consegue gente suficiente para trabalhar 24 sobre 24 horas? Resposta: com os profissionais da Guarda. Tal como no exemplo da unidade de neonatalogia, tiram-se daqui e levam-se para lá. Será que já começaram a ver o filme em toda a sua dimensão?

Aquilo a que estamos (passivamente?) a assistir é ao princípio do fim do Hospital de Sousa Martins enquanto tal. Não me chamem catastrofista se previr aqui que talvez os filhos dos meus netos, ao passarem por esta zona, encontrem uma placa a dizer “Vila da Guarda”.

Por: António Matos Godinho

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