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Coisas…

É inegável o desconforto existente no hospital de Sousa Martins, resultante não apenas de todo o imbróglio que rodeia o “caso da radiologia”, mas sobretudo do desempenho autista e amador do conselho de administração. As atribulações de há cerca de 1 ano, que rodearam a escolha dos actuais responsáveis tiveram o seu aspecto mais mediático na nomeação fugaz de um director clínico que pretendia determinadas garantias. Resultaram então naquilo a que Henrique Fernandes apelidou de “a 5ª. escolha”, ou seja, na nomeação do actual director clínico como solução de recurso, com o apoio de alguns médicos e a indiferença dos restantes. Eu incluía-me no conjunto dos que, na altura, deram o benefício da dúvida ao colega e, no momento em que fui convidado para lhe prestar auxílio como director do bloco operatório, respondi afirmativamente. Como é sabido, durou pouco a minha permanência no cargo tendo sido “dispensado” das funções uma semana depois da minha nomeação formal. Levei a mal, naturalmente, e tento ainda hoje obter uma explicação para o sucedido.

Recordo estes episódios no sentido de tentar encontrar analogias com os acontecimentos actuais que resultaram no afastamento da directora do serviço de radiologia (única médica do quadro do serviço), facto que considero muito mais grave e de potenciais piores consequências do que o meu próprio afastamento. À semelhança do ocorrido então, deparamo-nos novamente com um mutismo e uma recusa ao diálogo que impede o total esclarecimento da situação, quer aos olhos de quem foi afastado, quer aos dos seus colegas, quer ainda aos dos restantes funcionários do hospital.

Os dois pedidos de reunião já feitos por grupos de médicos ao director clínico, têm tido como resposta… nada. Em seu lugar verifica-se uma necessidade por parte deste em ir contando a sua versão em conversas de corredor e vão de escada, escudando-se no facto de não ser obrigado por lei a convocar a dita reunião.

A pouca credibilidade que este director clínico já oferecia, está agora reduzida a zero, verificando-se por parte da tutela uma incapacidade confrangedora em proceder à sua inevitável substituição. Por parte do próprio parece haver uma convicção profunda de que é o homem certo para o lugar certo, talvez à frente do seu tempo e por isso incompreendido. Agarrado ao lugar e àquela que pensa ser a sua razão, continua a furtar-se ao diálogo, a tomar decisões desconexas, a cumprir ordens absurdas e a não conseguir ver no tabuleiro deste jogo tão sério, mais do que um pequeno palmo à frente do nariz.

Mais uma vez, e à semelhança do que é regra neste país, quando finalmente desabar o castelo de cartas que está a ser montado, cá estaremos todos para apanhar os bocados e quando olharmos à procura dos responsáveis já estes estarão confortavelmente instalados numa outra qualquer função distribuída pelo partido.

Nota – Mea culpa: faz agora quinze dias fugiu-me a mão para a asneira ao chamar “igrejos” aos nossos “egrégios avós”. A atoarda tem-me perseguido desde então apesar de aparentemente ninguém ter dado pela coisa. São partidas do lobo frontal! As minhas humildes desculpas.

Por: António Matos Godinho

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