Afinal estava tudo bem! O problema da maternidade nunca existiu e não passou tudo de uma sucessão de infelizes mal-entendidos!
Depois de um encerramento relâmpago da maternidade (decidido pelo director clínico), de uma reabertura fulminante 24 horas depois (decidida pela Sra. Directora), de afirmações, contra-afirmações, comunicados, requerimentos, manifestações e transferência de grávidas, vem o Sr. Presidente da ARS à Guarda deitar um balde de água na fogueira e garantir que a partir de agora não há problemas com a maternidade do hospital de Sousa Martins. Disse mais: que os obstetras haviam cedido na exigência de um pediatra em presença permanente e que até estava para chegar mais um carregamento deles.
Para além do facto evidente para toda a gente de que tudo isto não passa de um punhado de areia atirado para os olhos dos mais crédulos, é preciso que se afirme que a história está mal contada, é incongruente e insustentável. A realidade é que os obstetras do hospital nunca exigiram a presença permanente de um pediatra na maternidade, mas sim a presença de um pediatra no momento do parto o que tem vindo a ser recusado com a alegação de excesso de trabalho devido à inexistente urgência pediátrica. Pelos vistos agora já é possível e quem protestou já não protesta, quem se sentiu desautorizado já não se sente e quem andava aos berros pelos corredores do hospital anda agora calado que nem um rato. Porque será?
Não é necessário ser um ás de estratégia política para perceber que tudo isto deixa o Conselho de Administração do hospital, quem o elegeu e o partido a que pertence, numa situação muito desconfortável, do tipo urticariforme. Com a já conhecida tendência para a gaffe e para o disparate, é fácil prever que à próxima argolada digna desse nome lhes caia tudo em cima, a começar pela oposição interna do PPD que saboreia agora o fel da manipulação, da mordaça e da demagogia.
Levando a coisa para o plano político, pode perceber-se a situação embaraçosa em que caiu a Dra. Ana Manso que, enredada num mar de intriga doméstica, se vê a braços com esta verdadeira armadilha que é o hospital, os seus administradores e o facto de terem sido escolhidos por si. Mais incómoda ainda não deixa de ser a personagem do vice-presidente da concelhia e director clínico do hospital, a sua sede de protagonismo e a sua recente colagem à facção da ainda líder.
Não podiam os socialistas e os contestatários laranjas querer melhor prenda neste momento do que a manutenção de um Conselho de Administração que lhes dará pano para mangas e slogans com fartura nas próximas batalhas eleitorais.
De tudo o que foi visto e ouvido, conclui-se, não sem uma ponta de tristeza, que o plano a que estas coisas continuam a tratar-se é demasiado baixo, falho de conceitos éticos e próprio de quem tem muito pouca vergonha na cara.
Aguardemos pelos próximos episódios.
PS: Afirmou o Sr. Presidente da ARS que não via razões para substituir estas pessoas. Não vê razões ou não vê substitutos?
Por: Anónio Matos Godinho