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Código Eyjafjallajokull

A propósito dos gritos recentemente proferidos por um vulcão existente sob um glaciar islandês, do qual decorreu a nuvem de cinzas que se passeou pela Europa, ocorreram-me algumas interpretações não científicas para o fenómeno.

De facto, o “Passeio das Cinzas”, ao contrário do que se disse e escreveu, não provocou qualquer caos aéreo mas sim uma enorme acalmia nos céus europeus. O caos foi em terra, claro, pelos milhões de pessoas retidas em países que não os seus, aeroportos congestionados por aviões estacionados, operadores turísticos desesperados e indústrias impossibilitadas de escoar os seus produtos. Factos que pelos vistos se traduziram em perdas de biliões de euros. Fico também curiosa de saber para onde foram esses “biliões de euros perdidos”…mas penso que talvez a Lei de Lavoisier o explique.

Imaginei então o fenómeno como uma espécie de revolta feita pela Boca da Natureza, à semelhança de outras que têm ocorrido…mas esta um pouco diferente, pois apresentou-se contra todo um continente. Estarão estas revoltas a ganhar dimensão planetária? Correremos o risco de todas as Bocas da Natureza começarem a gritar em simultâneo?

Dados menos publicitados são os dos benefícios ambientais obtidos pelo facto de os aviões estarem em terra. Segundo especialistas o vulcão produziu cerca de 15 mil toneladas de CO2/dia contra 344 mil toneladas/dia produzidas pelo sector europeu da aviação.

Por outro lado, os céus das grandes cidades europeias libertaram-se dos corredores de ruído produzidos pelos aviões e, ao que parece, foi possível ouvir pássaros em Londres, contentes que estavam as aves pelo desaparecimento súbito dos seus desleais concorrentes.

A não emissão de cerca de 206 mil toneladas de CO2, associadas a uma significativa qualidade da acústica urbana das grandes metrópoles comprova que o impacto ambientalista do vulcão é claramente positivo, mas comprova também que a acção humana sobre o Ambiente, é de facto aterradora, o que reforça o simbolismo do acontecimento.

Não deixa de ser irónico que, por causa da nuvem de cinzas, dezenas de representantes de países de todo o mundo tivessem cancelado a sua presença na cerimónia fúnebre do presidente polaco e da sua mulher, que faleceram na sequência da queda de um avião que vitimou 96 pessoas. Viagem trágica que o “Passeio das Cinzas” teria evitado se programada para uns dias depois.

Ocorre-me que o Homem poderia aqui fazer uma cedência a favor das leis da Natureza (que diariamente viola) comemorando, juntamente com o Dia Mundial do Ambiente, o Dia Mundial dos Céus Sem Aviões, através do encerramento de todos os aeroportos do mundo no dia 5 de Junho de cada ano.

Por: Cláudia Quelhas

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