Os caminhos da transumância vão voltar a ser trilhados este fim-de-semana no Fundão, em Alpedrinha, Capinha e Salgueiro, em mais uma edição do “Chocalhos – Festival dos Caminhos da Transumância”. Com uma nova imagem de marca – o rosto de uma ovelha com três chocalhos ao pescoço sob um fundo verde –, o evento apresenta-se com a programação «mais forte de sempre» de forma a «certificar a marca e registá-la para que fique sempre ligada ao concelho do Fundão», salientou o vereador da cultura, Paulo Fernandes, no dia da apresentação da iniciativa. Música, tradições pastorícias, ateliers, cinema, exposições e convívios populares fazem parte do programa deste ano, que pretende traçar para além fronteiras os «caminhos que unem gados, gentes e horizontes».
As tradições pastorícias assumem um maior relevo nesta terceira edição, organizada em conjunto pela autarquia e empresa municipal Fundão Turismo. Tudo começa amanhã à noite na Praça do Município com o grupo Galandum Galandaina, um dos maiores representantes da música pastoril mirandesa. Mas a música será uma constante durante os três dias do festival, com a realização do IV Encontro Nacional de Gaiteiros que vai juntar músicos do Minho, Trás-os-Montes, Coimbra, Litoral Centro, Estremadura e Península de Setúbal, para animarem as ruas do centro da cidade e das freguesias rurais por onde os pastores caminhavam em busca de novos pastos para os rebanhos. À semelhança da edição anterior, o percurso pedestre com rebanho por uma das rotas da transumância, programado para domingo de manhã, promete ser um dos pontos altos do festival. Esta jornada, que passa pelo Fundão, Alcongosta e Alpedrinha, será guiada por um pastor, reavivando assim a arte da transumância do passado. Aliás, é nesta freguesia que a arte da pastorícia se vai fazer sentir com maior vigor durante os três dias do festival graças à Feira dos Caminhos da Transumância. As ruas vão encher-se de animação e música, estando prevista a actuação do Grupo de Bombos de Alpedrinha, dos ranchos folclóricos da Alegria dos Enxames e da Cova da Beira, acordeonistas, cantigas à desgarrada, fados, concertos e arruadas pelos Chocalheiros de Vila Verde de Ficalho. Previsto está também o lançamento da “Monografia de Alpedrinha”, de Salvado Mota, no sábado à noite.
A Casa Museu do Salgueiro acolherá, por sua vez, a exposição “Pastorícia – Trato de homens e animais”, retratando através de vários elementos ligados ao pastoreio a relação intemporal que liga homens e animais num ciclo de interdependência, sobrevivência e respeito. Este espaço deverá dar lugar no próximo ano ao Eco-Museu da Pastorícia para acolher os mais diversos objectos e utensílios usados pelos pastores, cuja recolha tem vindo a ser feita nos últimos anos e da qual já resultaram duas exposições. Para a Barragem da Capinha está programado o “Acampamento das Rotas da Transumância”, com percursos pedestres pelos caminhos usados pelos pastores, animação de rua e um concerto pelo grupo OCAIA. Destaque ainda para o filme de animação “Ovelha Azul”, realizado pelas crianças das escolas do 1º ciclo do Ensino Básico de Alpedrinha, Capinha, Quintas de Monte Leal, Orca, Três Povos, Peroviseu e Castelo Novo, e para a Oficina da Palheta, que decorre desde a semana passada na Academia de Música e Dança do Fundão. O filme, que será exibido no sábado à tarde no Casino Fundanense, resulta do projecto “Frame a Frame”, em parceria com a Cooperativa Cinema Jovem, e orientado por Nelson Fernandes, Rodolfo Pimenta e Ângela Duarte. Já a Oficina da Palheta, que termina no domingo, visa o ensino de técnicas de execução e repertório, a história do instrumento e a sua relação com o contexto agro-pastoril.
Liliana Correia