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Chinelo inovador com cunho fundanense

Quatro estudantes da Escola Profissional do Fundão criaram um chinelo com caroços de cereja, burel e cortiça

Caroços de cereja, burel e cortiça são os principais materiais dos chinelos “Lumpslipps”, desenvolvidos recentemente por quatro estudantes do curso Técnico de Comércio, da Escola Profissional do Fundão (EPF).

Não é a primeira vez que alunos daquela instituição se lançam no desafio criado pela Junior Achievement Portugal, através do programa “A Empresa”, e que visa o desenvolvimento de um produto inovador e a gestão de uma pequena firma. A participação de antigos alunos neste projeto nacional foi o pontapé de partida para Sandra Paulino, Neuza Botão, Patrícia Ramos e João Matos. «O facto dos nossos colegas se terem aventurado despertou em nós o interesse de criar um projeto empreendedor e foi por isso que, desde cedo, decidimos que no último ano de curso também iríamos participar», confessaram os jovens. Assim surgiram os chinelos “Lumpslipps”. Brincando com as traduções do inglês para português, os alunos da EPF alcançaram uma maneira interessante de colocar os caroços de cereja (lump, em inglês) nos chinelos (slipps, em inglês, cujo diminutivo corresponde a slippers), originando assim um jogo de sons atrativo entre as expressões inglesas.

Também o nome da empresa – “Cloudslipps” – resulta de um jogo de palavras que associa aos chinelos a ideia de conforto, bem-estar, comodidade e relaxamento (note-se que “cloud” significa nuvem). A verdade é que, embora o nome em inglês tenha sido pensado para promover a internacionalização do produto, a história por detrás deste chinelo inovador é de origem beirã. Desde logo, a diferença está na utilização de um subproduto: o caroço da cereja. Devido à sua capacidade de retenção de temperatura, esta matéria-prima chamou a atenção destes criadores que resolveram integrá-la na palmilha dos seus chinelos, juntamente com lã e hortelã. Os “Lumpslipps” são feitos com materiais cem por cento naturais, possuindo também uma sola de cortiça e um revestimento em burel.

«Escolhemos estes materiais devido às suas capacidades térmicas, pois permitem uma maior eficiência», justificam os jovens empreendedores, acrescentando que são também produtos cem por cento portugueses e amigos do ambiente, «duas caraterísticas que se inserem nos valores da empresa». Mas a pergunta que se coloca é o que diferencia este chinelo dos que já estão no mercado. A resposta parece simples para os seus criadores: «É um chinelo inovador devido ao facto da sua palmilha ser facilmente removível e ter dupla funcionalidade. Por um lado, pode ser colocada no micro-ondas, o que permitirá estimular a termorregulação corporal. Por outro, tem também uma função relaxante, uma vez que massaja os pés conferindo maior conforto e bem-estar», sustentam.

Quanto ao futuro as expectativas são altas, mas ponderadas. Segundo os estudantes, numa primeira fase pretendem conquistar o mercado nacional e, posteriormente, chegar ao mercado internacional através de feiras de calçado em todo o mundo. Os jovens empreendedores estão agora a estudar os custos de produção e as estimativas de venda, encontrando-se também a terminar o desenho em 3D para passar à produção do primeiro protótipo. Sandra Paulino, Neuza Botão, Patrícia Ramos e João Matos consideram que este projeto vem contrariar a «ideia errada» que tem sido associada ao ensino profissional: «Nós sabemos que atualmente existe aquele mito de que as escolas profissionais são para jovens que não conseguem terminar o ensino secundário e que, consequentemente, não têm tantas capacidades para ingressar no ensino superior», lamentam, contrapondo que a escola profissional é «um meio de aprendizagem» que lhes permite colocar em prática o que é lecionado no curso, «contribuindo para a nossa experiência».

Atualmente, a Cloudslipps é apoiada pelo município do Fundão, que é o investidor social do projeto. Também a Corticeira Amorim, a Burel Factory e a CerFundão resolveram associar-se, entre outras entidades parceiras, à criação desta empresa e ao desenvolvimento deste produto. Por agora, os jovens empreendedores estão focados na sua participação na Feira (I)limitada de Coimbra, a realizar a 24 de abril, onde marcarão presença mais 21 miniempresas.

Jovens sem medo de empreender

Estes quatro estudantes conhecem bem as insuficiências do interior, mas nem assim deixaram de avançar com a sua ideia de negócio.

Sandra Paulino, 22 anos, natural de Castelo Novo, é a presidente e diretora de operações da Cloudslipps. Neuza Botão, 17 anos, reside em Vale de Prazeres e é assessora da presidência e diretora financeira. Patrícia Ramos, 19 anos, vive no Fundão e é a responsável pelo departamento de marketing e vendas. João Matos, 20 anos, é natural da Atalaia do Campo e é diretor de recursos humanos e de tecnologias de informação e comunicação.

Sara Guterres Sandra Paulino, Neuza Botão, Patrícia Ramos e João Matos fundaram a microempresa “Cloudslipps”

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