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Chicotadas psicológicas

Agora Digo Eu

1. Ao contrário do que alguns dizem, um bom treinador não precisa de tempo para implantar o seu sistema de jogo porque o que caracteriza um bom treinador é precisamente o ser capaz de montar uma equipa eficaz em pouco tempo – para Mourinho, um mês é suficiente. Lembro-me de Hernâni Lopes ter um dia afirmado que se ao fim de 18 meses não se virem os resultados de um programa de ajustamento é porque este falhou, e o homem sabia do que falava, uma vez que conduziu com êxito as operações na anterior intervenção do FMI em Portugal (1983-1984). Este governo já leva 21 meses no ativo e, fora a redução do défice externo (resultante em grande parte da contração da procura interna), os resultados não aparecem. Pelo contrário: está tudo pior. É o memorando da troika que está mal desenhado, como agora se desculpa o governo? Ou foi o governo que aplicou mal o memorando, como sugere a troika? Seja como for, Vítor Gaspar falhou.

2. Macário Correia nasceu para a política na fase final do cavaquismo, como secretário de estado do ambiente. Muitos auguraram-lhe um futuro promissor. O homem, de facto, dava sinais de honestidade e de alguma competência técnica. Todavia, tornou-se conhecido pelo seu radicalismo no combate ao tabagismo. Para a posteridade, ficou o célebre slogan “Beijar uma mulher que fuma é como lamber cinzeiros”. Confesso que desde então nunca mais vi o homem com os mesmos olhos – afinal de contas, o que pensar de alguém que parecia ter como hábito “lamber cinzeiros”? Anos mais tarde, Macário emigrou para o poder local, tornando-se Presidente da Câmara de Tavira. Uma vez mais, muitos elogiaram o seu trabalho. Verdade que volta e meia pairavam na comunicação social rumores sobre alegados episódios de assédio sexual de Macário sobre uma funcionária, que ele desmentia categoricamente, acusando a dita senhora de loucura. Não sei como é que ficou esse caso. Entretanto, em 2009, Macário ganhou a Câmara de Faro, destronando o PS. Eis senão quando Macário é condenado, em 20 de junho de 2012, pelo Supremo Tribunal Administrativo, por, em 2006, ter autorizado licenciamentos ilegais de obras particulares em freguesias da serra de Tavira, violando o Plano Regional do Ordenamento do Território e do Plano Diretor Municipal de Tavira, e contrariando os pareceres dos técnicos camarários. Macário, como é evidente, declarou-se inocente e apresentou-se como uma vítima. E de aclaração em aclaração lá se tem mantido agarrado à cadeira camarária. Esta história pouco edificante serve, entre outras coisas, para nos lembrar que só é possível desalojar muitos dos autarcas indígenas a tiro.

Por: José Carlos Alexandre

* Escreve quinzenalmente

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