A Cercig (Cooperativa para a Educação e Reabilitação de Cidadãos Inadaptados da Guarda) inaugura, em Setembro, o Centro de Hipoterapia e Equitação Especial, situado junto ao parque industrial da Guarda, onde já decorrem as primeiras experiências com alunos da instituição. Trata-se de um equipamento que vai contribuir para a reabilitação de crianças e jovens com deficiência através da prática de equitação.
O picadeiro, concluído em Abril último, passa agora por um processo de certificação, o que permitirá abrir o espaço à comunidade dentro de um mês. Até lá está em «fase experimental com os miúdos da instituição», refere Virgílio Bento, presidente da Cercig. «As perspectivas são as melhores, dado que é único picadeiro da cidade e porque tem uma qualidade que não existe em lado nenhum», garante, alegando que foi construído com o objectivo de «oferecer às crianças da instituição uma mais-valia pelo contacto com os animais». No entanto, o centro hípico pretende abrir as portas a todos os interessados pela prática do hipismo, sendo esta «uma forma de garantir a sua viabilidade financeira», acrescenta. O equipamento, que custou cerca de um milhão de euros, foi co-financiado pela ProRaia – Associação de Desenvolvimento Integrado da Raia Centro Norte, que suportou mais de metade desse montante, sendo a segunda investidora no projecto. Nesse sentido, o Centro é «uma iniciativa auto-sustentável que, acima de tudo, representa mais um serviço gratuito para os 120 utentes da Cercig», sublinha Virgílio Bento.
Para os jovens da instituição, a equitação especial não é uma novidade, pois, antes da construção do picadeiro, era contratada uma empresa para desenvolver esta terapia. Porém, a Cercig pretende dotar-se de condições «condignas e de qualidade» para garantir o apoio necessário aos seus utentes.
Embora numa fase experimental, alguns dos alunos da cooperativa já tiveram o primeiro contacto com o cavalo. Chamado de “Boneco”, é o primeiro e único residente do picadeiro, tendo sido emprestado à instituição por um privado. «Há cerca de 15 dias começámos esta experiência com os miúdos, no intuito de testar os equipamentos», adianta Inês Meireles. A fisioterapeuta explica que, por isso, ainda não se trata de hipoterapia, «porque implica a permanência de uma equipa multidisciplinar que, neste caso, passa por ter um gestor técnico de picadeiro, necessário para ter em atenção a relação entre cavalo e utente». É que enquanto a fisioterapeuta avalia o utente, aconselha na perspectiva da reabilitação e dá indicações para o uso de equipamento especial, «o instrutor tem a função de ensinar a técnica de montar, tendo em conta as capacidades e objectivos terapêuticos de cada jovem».
Mas isto não basta. A Cercig promove muitas saídas ao exterior com o objectivo de «fomentar a socialização dos seus jovens e evitar a exclusão», tendo por isso alguns protocolos com quintas, revela a técnica, acrescentando que o progresso dos utentes é «mais positivo» se houver actividades lúdicas ao ar livre. «A reacção dos miúdos é maravilhosa e demonstram muita vontade», descreve Inês Meireles, referindo-se também ao momento da limpeza do animal, em que lhes é atribuída uma responsabilidade que contribui para «o aumento da auto-estima». Os benefícios da equitação terapêutica revelam-se algum tempo depois na condição física, emocional e mental dos praticantes, registando-se, nomeadamente, melhorias ao nível orgânico e neuromuscular, além de reduzir o stress e aumentar a concentração e atenção. «Contudo, nem todos podem praticar hipoterapia, pois é necessário ter em conta as características especiais de cada um», refere Inês Meireles. Por exemplo, esta actividade não é aconselhada a doentes com esclerose múltipla, epilepsia e outras situações específicas. Apesar da triagem feita pelos técnicos, a prática hípica é benéfica nos casos de paralisia cerebral, trissomia 21, distrofias musculares, entre outros.
CTR
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